Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Assim caminha a humanidade

 

           

               Quando a gente grita, a gente explora o nosso interior em chamas. Quando a gente implora a atenção de alguém, a gente percebe que alguma coisa está faltando em nossas vidas e que nada somos quando tentamos caminhar sozinhos... A gente canta para alegrar o vazio que imensamente adentra em nosso corpo como algo que busca por um sentido perdido entre múltiplos sentidos, e a viola geme, geme sem sentir dor porque nesta efêmera contemporaneidade a dor já não mais tem sentido. Ela transformou-se num sintoma corrente da humanidade desumana...
                E o romancista, contista ou cronista entra em cena para amenizar os sete pecados capitais cometidos ininterruptamente pelo novo e contaminado sujo corrupto homem que violentamente inflige nossa razão humana iluminista e humanitarista. O romancista escreve por necessidade de fome e de gula, para enfrentar a narrativa que invade a sua alma aflita. O poeta precisa criar versos que pulam e saltitam como palavras que precisam ser liberadas de si, palavras que se não forem expostas à dimensão da exterioridade, o poeta morreria em sua dor intensamente profunda, e por necessidade de vida, de dar sentido ao múltiplo sentido, ele desesperadamente escreve...
                O rio precisa de água e essas águas precisam se movimentar para dar sentido ao rio que de repente joga suas incansáveis águas nos braços do “amante salgado”, e o mar que nunca se sente doce, de repente, sente a necessidade de invadir a louca vida dos sedentos homens para acordá-los de seus planos insanos, de seu corre-corre contra o tempo catastrófico...
                O tempo que domina a todos e a tudo se move em sua forma infinita e continua como nos velhos tempos, mas o homem em sua louca mania de riqueza deixa de viver e sentir o tempo para tornar-se um estranho ser perdido na cama corrupta que cega os seres em suas vidas desiguais. Tempo, tempo, tempo! Homem, homem, homem! Cegos seres que deixam de viver para tornarem-se “bichos” que se distanciam da imagem primitiva da divina criação e se deixam ser dominados pela gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade, tornando-se imagens de seres desconstruídos de sua peculiar essência humana, pois todo homem nasce bom e a sociedade o perverte, mas o bom homem não se deixa corromper-se.
                E a pós-modernidade nasce, trazendo consigo a loucura desvairada do tempo perdido, trazendo consigo o implacável vazio que alucina os “novos homens” perdidos da “seara” seca, desértica, inabitável. A loucura pelo poder, pela ganância e pela desonestidade tem levado o homem a perder o seu mais precioso tesouro: a sua presentificação humana. Os poderes da criação são abalados em sua essência... O visível torna difícil ser visto, pois o que vemos também nos olha, e a aparência se distrai de sua imagem primitiva, quebrando o “escudo protetor” que garante a racionalidade como sentido pleno de convicção e segurança, impedindo que a perdida fonte em ruína e em decadência se instale no ser.
                Somos a “inelutável modalidade do visível” que se abala em sua posição de reflexão vencida, um espelho que se quebra quando a violência torna-se o poder central de uma sociedade que tenta se acertar, mas é interrompida pela “precariedade do ser” que ao pensar em si, se distancia do outro que se ausentifica quando deveria estar presente.  Assim caminha a humanidade... esquecendo-se de que sem o outro no seio do primitivo “eu” o caos se estabelecerá e sangrará o tecido reprodutor de equilíbrio, saber, ordem e progresso.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "7 Pecados Capitais"- Edição Especial - Abril de 2017