Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

 

Como um champanhe

 

           

         

      Eliana, uma pessoa muito bonita e excessivamente vaidosa. Ela fazia questão de vestir-se com o maior cuidado. Frequentava as lojas mais caras. Comprava sem a menor preocupação com o preço das peças.  Ela não gostava de ter uma peça que alguém tivesse igual ou parecida com o que vestia.
      Foi convidada para ser madrinha de casamento. Ficou exultante e agradecida por ter sido escolhida entrar na Igreja com um amigo. E a oportunidade de desfilar elegância. Eliana pensava como seria seu vestido, pensava na cor e detalhes como: recortes, decotes, pregas e babados.
      Escolheu uma loja que tinha os vestidos longos mais lindos. Entrou, foi muito bem recebida pela vendedora que já a conhecia.  Eliane representava uma boa comissão de venda. Cliente valiosa, pensou a moça, e se desdobrou em elogios e se esmerou no atendimento à cliente. Eliane saiu da loja com um belíssimo vestido da cor chumbo prateada e bordado com pérolas. Como ela gostava de exclusividade, saiu da loja com a intenção de levar o vestido à costureira e mandar aumentar o recorte das costas e mais um detalhe no decote e nas pequenas mangas.
      Eliane gostava de surpresa, e como não queria que ninguém visse o vestido antes de estar vestida e totalmente pronta para festa, tratou de disfarçar o pacote. Chegando a casa pegou um saco preto, colocou o vestido dentro, deu um nó e deixou num cantinho da área, na certeza que ninguém se interessaria ver o que tinha dentro do saco preto.
      Como é difícil por em prática ideias estranhas. Quanto mais cuidado se tem com alguma coisa mais fácil de atrair o contrário do planejado. As muitas chaves na porta aumentam as possibilidades de esquecer a porta aberta para o ladrão entrar.
      José Marco, o marido de Eliane, chegou animado depois de um árduo dia de trabalho. Encontrou na rua um grande amigo do tempo de faculdade e conversaram bastante. O encontro deixou nos dois uma sensação agradável de bons tempos. E convidou Leonardo, o amigo, para jantar em sua casa.
       Eliane estava tomando banho, e ele lavou a louça que estava na pia, colocou o lixo na lixeira, guardou objetos que estavam espalhados.  Quando a mulher terminou o banho, já arrumada para sair. – Zé, vou dar uma saída, vou a costureira. Falou Eliana.
 - Encontrei um amigo, o Leonardo, você o conhece, e convidei para jantar aqui em casa. Vamos pedir aquela deliciosa comida japonesa, que você gosta muito. Comentou o marido.
  - Assim que eu voltar providencio tudo.  Disse Eliane.  E foi até a área pegar o saco preto com o riquíssimo vestido.
  - Zé, você viu um saco preto que estava na área de serviço? Perguntou com voz embargada.
  - Já coloquei no lixo e foi bem na hora que passou o caminhão coletor, aquele que tem um triturador. Respondeu José Marco.
     Por maior experiência e imaginação que alguém tiver será incapaz de descrever o que aconteceu a seguir àquele pequeno diálogo.
      Algum tempo depois. A campainha tocou, era o Leonardo.  Quando ele olhou para os dois, perguntou?
      - Que foi que aconteceu com vocês? É melhor eu ir embora. Comentou o amigo.
  - Não. Fica por favor. Entre e sente-se. Eu vou varrer os cacos e abrir um espumante. Falou o Zé.
  - Vou por a mesa, a comida já está chegando. E continuou a mulher que perdeu o rico vestido de gala. Perdeu o vestido para o nada.
  - Foi a primeira vez que fomos sinceros um com outro, falamos tudo que estava engasgando o nosso diálogo. Rasgamos todas as palavras, lavamos toda roupa suja, estouramos as bolhas e quebramos todos os copos e pratos. Agora, vamos tomar “champanhe” e comemorar a liberdade de explodir no momento certo e deixar a espuma sair. Há muito mais champanhe por ai do que vinho envelhecido com borras no fundo.

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "7 Pecados Capitais"- Edição Especial - Abril de 2017