Regulamentos Como publicar Lançamentos Quem somos Edições anteriores Como adquirir Entrevistas

Letícia Faria Conde
Antologia on line

Bauru / SP

Amor de Laura

 

Laura virou bebida. Literalmente!
Diz uma lenda passada de mãe para filha que na vila de Jericocó houve uma mulher muito bonita, Laura. Sempre perfumada, nunca se casou, mas teve diversos amantes.
Seus homens eram tantos, dizem, que ninguém jamais soube fazer a conta e proclamar o número certo. Se perguntassem para ela a quantidade, a mesma respondia “E amor se importa com números?”.
Mulher estudada e rica, nunca lhe faltou nada; todos da vila pensavam que esse era o motivo das tantas noites na cama, provavelmente queriam tirar proveito. Nenhum conseguia nada além de sexo e carinho. E ela tinha muito carinho.
Mas a lenda mesmo começou quando um dia sua empregada ao limpar a escova de cabelos da patroa acabou se engasgando com uns fios de cabelo, ninguém sabe como.
O fato misterioso foi o casamento.
Dias depois do acontecido um homem alto, desses que tem charme de cinema, passando pela vila se apaixonou por Ana e em meses estavam casados.
“Foram os cabelos da dona!” respondia a empregada quando questionada sobre qual teria sido seu método de conquista, afinal, ela nunca havia tido um namorado sequer.
A curiosidade se tornou tamanha que Lívia resolveu arriscar. Um dia sentada próxima a Laura, cortou-lhe umas madeixas, fez um chá, engolir seria impossível! E funcionou, dias depois também namorava, em meses casava-se na cidade próxima.
Rapidamente todas as moças solteiras do local estavam eufóricas cortando-lhe os cabelos, pegando raspas das unhas, fazendo intermináveis chás com os restos de Laura. A mesma ria do acontecido, dava seus fios sempre que pediam, um já era o suficiente para a magia acontecer, e outras partes de seu belíssimo corpo.
Mesmo ao envelhecer ainda assim a fila na porta de sua casa não diminuía.
Aos 89 anos, com saúde precária, as solteiras começaram a se preocupar, pensavam e tentavam encontrar maneiras alternativas de conseguir ter uma parte da senhora mesmo após a morte.
E quando já morta tiveram uma idéia.
Pagaram um carro para transportar o corpo até a capital e lá cremaram sua figura.
Com a urna no meio da praça e uma fila de mulheres logo atrás, suas cinzas foram distribuídas aos poucos.
Laura não tinha parentes.
Dizem que naquele dia todas as moças fizeram um chá do corpo cremado da moça que tanto carinho soubera dar. Dizem também que naquela noite todas encontraram os amores de suas vidas.

 
Publicado na Antologia de Contos Amor & Desamor - Abril / 2010