Jorge Braga da Silva
Peruíbe
/ SP
Democracia da chuva
Dia desses, quando a chuva choveu,
E até meus ossos ela tudo umedeceu,
No chão, o verme lutava quase que se afogando,
Ele e eu, o frio, e a chuva nos molhando.
Eu pensei: “Isto sim que é democracia!”.
A democracia d’uma chuva que chovia.
O verme e eu, pra chuva que caia, somos seres iguais:
Dois exemplares ensopados do reino dos animais.
O verme túrgido d´água daquela chuva fria,
Já se via fatal vítima de aguda pneumonia.
E eu ali viajando pensando na democracia,
Pro meu amigo verme torcia todo cheio de empatia.
E chovia a chuva com todo seu direito,
Quando a roda de um carro sem respeito,
Esmaga na chuva meu solidário companheiro,
Dá-me banho d’água suja aquele motorista grosseiro
Parece que o banho frio me deu um estalo mental:
A democracia da chuva seria mesmo um fato real?
Mais apto do que o verme, das águas a fúria supero,
Pois refaço de aço e concreto a Natureza como quero.
Nada na Natureza permanece mais que a mudança, a mutação.
O vento vira furacão, a água inundação
e o vulcão vira erupção.
Para o forte e para o fraco, tanto faz, o Sol nasce e se põe.
Não é democracia, é a lei natural que a Natureza
nos impõe.