Antologia on line

Vera Lucia Pavan Ferreira
Sertãozinho / SP

O casulo abandonado

Num dia anuviado, ao casulo abandonado
a borboleta tornou.
No doce ninho arrependida onde a luz lhe deu a vida,
a borboleta adentrou.
Queria a mesma claridade desmentindo a verdade
que na infância ela sonhou.
E no casulo abandonado, no silêncio mergulhado,
o seu passado relembrou.
Viu suas marcas na parede, o vento balançando a rede,
o relógio bem distante,
marcando a hora errante dos seus olhos tão felizes
e do adeus já sem raízes que para longe a levou...
Voo livre no infinito.
Nem sequer ouviu o grito que da crisálida ecoou.
Deslumbrada com a paisagem,
nunca via que a miragem em enganos a aprisionou.
Dançando em festa às flores,
entre beijos, mil amores, na primavera passageira
e na vida tão brejeira,
o bailado que a conduzia em tardes claras já trazia
o fim do dia, a noite fria.
E num dia anuviado, no casulo abandonado,
a borboleta morria.