Ismar Carpenter Becker
Rio de Janeiro / RJ

 

 

Pingo d'água

 

O primeiro pingo d’água é a esperança
Talvez o começo do fim da seca inclemente
Que matou o roçado
Secou o cafezal
Sucumbiu o gado
Secou a palha do milho
Deixou o rastro da fome
Pingo d’água a esperança da boa chuva que encherá o rio
Voltar o verde a caatinga
Escutar de novo o canto dos pássaros na velha figueira
Brilhar de novo os olhos da morena escorrendo lágrimas das nuvens
Pingo d’água a natureza chora de saudade
Gotas cobrem as flores da primavera
Evitando a briga do cravo e a rosa
Pingo d’água do suor no rosto da lavra profunda da terra
Pingo d’água a esperança se renova no ar

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 148 - Maio de 2017