André Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ

 

 

Último encontro

 

Eu me encontrarei um dia com a morte...
E direi a ela: "Bom dia", "Boa tarde" ou "Boa noite"...
Ela, como a tradutora perfeita da vida,
Falará com sua voz em sonoro açoite:
Sê bem-vindo! Da senda sofrida ou feita de sorte!...

Se o encontro se der em noite nublada e escura
Pedirei que me deixe tomar,
Antes que se destine ao destino que se procura,
Um imersivo banho de luar,
A fixar-me uma luz serenando a loucura...

Se for numa boa tarde, a seu encontro eu me pôr...
Clamarei: um pouco aguarde... O crepúsculo dourado
Para que eu veja o céu recamado
Pelo pássaro de fogo mergulhado
Em meus olhos que se fecham azuis sem cor...

Ah! Mas, se eu me encontrar pela manhã
Com a foice cor da madrugada
Eu jamais a temerei e o nada
Pois, a madrugada tece o fio d'ouro do amanhã
Que faz todo passado amanhecer
No presente que o futuro vem tecer...

E eu direi: bom dia! À sóbria e humilde senhora
Anfitriã modesta, da única certeza...
Mesmo que a luz falte à transição da hora
Esperarei como a gota de orvalho na rosa
Pela madrugada solitária, beleza luminosa
O horizonte perdido, arrimo à nova aurora
Na partida pra alegria, da estação da tristeza...

 

 

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 148 - Maio de 2017