Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

Festival literário

 

Naquele Grande Teatro, uma competição haveria
Para a escolha da melhor e/ou mais bonita palavra
Ou expressão, gênero literário, figura de linguagem
E tudo mais referente a essa “Última flor do Lácio.”
O júri - os linguistas, a plateia - as 26 letras do alfabeto.
Na turma do gargarejo, o “A” e o “P” se sentiam os maiorais
E lá nas últimas fileiras, o “K,W,Y” se amoitavam.
O primeiro que subiu ao palco - o pleonasmo
Já foi logo dizendo: “Subir pra cima desse palco não foi fácil!”
A seguir - a sinestesia, vendo naquilo tudo cheiro de tramoia.
Quanto aos estrangeirismos, alguns apoiavam, outros não…
No troca-troca de letras, os gêmeos “cassar e caçar” entraram
-O primeiro, à procura dos mandatos de políticos corruptos
-E o outro, procurando sua presa na selva.
Foi a vez dos  quadrigêmeos - por que, por quê, porque e porquê
Seguidos das menores palavras – pé, fé, paz, dó, entre outras
Que discutiam qual delas venceria (tenho fé que a paz vencerá).
Outra turma então entrou: a das palavras de duplo sentido
-Ativo, arrombar, cabecinha, aranha, ralar, roda, pinto…
Metáforas e paradoxos se estranhavam…(palavras sem rima).
E na hora do veredicto, todos se exaltaram, ninguém se entendia
Ânimos acirrados, cada qual se julgando e dizendo ser o melhor.
A essa altura do campeonato, o conto e a crônica se estapeavam já
E a licença poética correu para não apanhar também.
Formou-se assim um grande tumulto e nessa bagunça generalizada
Surgiu a Língua Portuguesa, inculta, bela, constitucional…
E como na música “Futebol da Bicharada”, de Raul Torres
O certame foi suspenso, com o bom senso, em trejeitos efeminados
E desmunhecando muito, em alto e bom som, assim falar:
“Ai, meu Deus…que estupidez! Assim não dáaaa!!! Desse jeito
Nesse palco eu não subo! Não subo… não subo…e não subo.”

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 149 - Junho de 2017