Aécio Oliveira Araújo
Jaboatão dos Guararapes / PE

 

 

Incansável cavaleiro

 

Malvado é o tempo, que nunca apeia de seu cavalo.
Por que tanta correria?
Por que viver açoitando tanto o sol, tangendo tanto a lua,
ambicionando sempre saltar além da garupa do amanhã?
Parece até haver marcado algum encontro amoroso, ser ciumento,
estar atrasado ou ver como inalcançável a época do acasalamento.
Ó tempo, por que não paras para descansar?
Por que és tão sedento em confeccionar dias,
montando e remontando cada um com cacos e restos d'outros,
numa sequência tão veloz que, por toda existência,
sequer tivemos criatividade para nomear mais que três?
Por que não deixas o sol sentar um pouco junto da lua,
fazendo cumprir a profecia de Raul Seixas,
enquanto nos leva a uma sala ao lado,
para que façamos recapitulação de nossas vidas,
mesmo que nada possa ser tocado e seja breve a reprise,
bastando apenas ser mesma a emoção
que outrora nos envolveu.

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 153 - Outubro de 2017