Renato Saran
Anápolis / GO

 

 

Os olhos de um poeta

 

Tenho em mim toda a incoerência da criação…
Todo olhar ilógico e os pensamentos na mão!
Tenho as vozes, e tenho mais de um coração!
A chuva a molhar a janela dizendo “quieto” e “não”!
A brisa molhada dos olhos protegidos de paixão!
Os passos tortos, no descompasso que não se encaixam,
mas vão…
Em vão, no vão! Mais vão…
Seguindo sozinho com todos em mim… rimando,
vem ela, sensual e bela, bailando feito aquarela de tons…
Rimados e pintados, tela na folha, canção monocromática,
do arco-íris que ignora o pote de ouro!
Segue deslizando no Éter, preenchendo os vazios…
tenho a inquietude de uma mão que não cessa!
De um coração com pressa! Tanto amor que quando vem,
me esmaga, me destrói! Me lança em pedaços ao vento…
Só para rimar! E sorri ao longe me seguindo pelo ar!
Perdido ao destino de te amar, desesperado e contente
por não conseguir parar. Vento que joga ao ar!
Perdido como o cintilar propagando-se, perdendo-se…
E só assim te encontro do alto do prédio numa noite de
primavera. Jogando-me em versos para que possa ser
salvo pela donzela! E todos os dias faço essa viagem,
quando chegamos do trabalho e posso olhar nos olhos dela! 

(Para Euclenia Soares Saran)

 

 
 
Poema publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol. 153 - Outubro de 2017