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Rodolfo Franzão
São Paulo / SP

 

Às cegas


Chorava em frente do aparelho de TV, ouvindo ansiosa a história de amor narrada pelo Samsung.
Claudia era uma linda mulher de pouco mais de trinta anos e infelizmente por um golpe do destino ou por forte razão, cega, desde seus cinco anos de idade, mas uma alma alegre e viva. Admirada por seus amigos e amada pelos familiares.
Vivia sozinha em seu apartamento e dedicava-se as tecnologias de áudio, já que tinha um ouvido vivo. Gostava muito de fazer exercícios de audição e nas tardes tranquilas, depois que voltava do trabalho, ficava a ouvir os apartamentos vizinhos, cochicharem entre as paredes.
Em uma ocasião dessas foi que conheceu Mauro, rapaz de trinta e dois anos, solteiro, de voz suave e de cabelos curtos, talvez. Assim, era a forma como Claudia o fantasiava, já que o aspecto físico do rapaz não podia decifrar. Bem, que queria enxergar para vê-lo, mas não podia. No entanto, imaginava e se deleitava em seu mar de pensamento.
Sempre alegre, a moça ouvia todos os dias suas músicas favoritas, instrumentais da época de ouro da música brasileira, algo como Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Jacob do Bandolim etc. Todavia, em seis meses que Mauro mudara-se para aquele complexo de concreto, a moça não ouvira uma nota, um acorde vindo do apartamento do rapaz. Pensava que o mesmo não era muito de ouvir música.
Um dia sem esperar, batem a porta, um som oco como de uma bengala ou coisa parecida. Claudia pergunta quem é, a resposta a assusta, sou eu o Mauro. A moça para, fica eufórica, já vou, fala. Tempo para se arrumar pensa e começa.
Linda abre a porta. Como vai pergunta a Mauro? Como posso ajudá-lo? Estou apaixonado pela música que ouve todos os dias. Gostaria de acompanhá-la a uma roda de choro que conheço. A moça não se importa com sua deficiência e aceita a proposta do rapaz.
Claudia, só há um problema, posso segurar em seu braço? Como vê, sou um deficiente visual.



   
Publicado no livro "Os mais belos Contos de Amor" - Edição Especial - Outubro de 2014