Helena
Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ
Parceria
Loucuras são imensuráveis e portanto indiscutíveis.
Podemos gritar e não dizer o porquê. Não existe
terapia melhor do que subir uma montanha e gritar; gritar até
cansar e ter um acesso de tosse.
O grito dentro do banheiro quando não existe alguém
em casa, acalma o ego que se assusta com as rugas inesperadas.
Maravilhosa é a história do casal que se coloca
cada qual em uma das cabeceiras da mesa pequena que vai sendo
trocada à medida que a família aumenta. Aos poucos
os filhos se retiram, formam suas famílias e a mesa volta
a ser menor. A visão do casal também diminui e as
rugas não são portanto percebidas com exatidão.
Os dois continuam bonitos um para o outro graças à
passagem do tempo e suas naturais dificuldades físicas.
Loucuras do coração que gosta de se enganar.
Nada substitui um olhar que passeia pela testa até o queixo
passando por um sorriso que entremeia dentes saudáveis,
fileiras de pérolas brilhantes que se oferecem à
admiração. O amor é assim: detalhes, não
um todo perfeito. Não importa se uma espinha marota se
engraça numa das asas do nariz que constrange o ser que
lhe é portador. O amor ficará felicíssimo
se puder espremer aquele montinho de pico amarelo. Loucuras acontecem
quando duas pessoas esbarram e encostam sem querer os rostos ou
braços e mãos se roçam. Ás vezes acontece
uma sinergia tão intensa que a eletricidade existente em
seus corpos transmite um breve e leve choque. Estariam enlouquecendo
ou daí nasceria uma paixão que durará até
se transformar ou não em amor do tipo que acalma, que conforta,
que se faz companheiro? Mas se frustrado tornar-se-á o
ideal, já que os amores não concretizados nunca
serão esquecidos. Tudo porque ficaram no potencial, não
se realizaram no quotidiano da existência. O realizável
cria na maioria das vezes um limo, uma densidade que confunde
e atrapalha o poder do amor. É bom sonhar e imaginar que
o amor sem finalizações tem um lugar muito especial
no coração e na mente de quem não o viveu
inteiramente.
Paremos por aqui; as divagações sobre o amor tomaram
conta do texto que parecia focar em loucuras. Talvez porque amor
e loucuras são parceiros inseparáveis.
|
|
|
|
|