Neide
Araujo Castilho Teno
Dourados / MS
O peso do amor oportunista
Era uma jovem feliz, inocente nos seus 16 anos
de vida. Poucos namorados, mas acabou-se apaixonando perdidamente,
por um daqueles que fazem promessas e juras infindáveis.
O pretendente era órfão de pai, vivia sob a proteção
da mãe e do padrasto com um projeto de vida bastante claro:
terminar os estudos interrompidos, e ser juiz um dia.
Como nenhum amor é único, esse também não
foi, embora o pensamento de adolescente caia sempre no abismo
e na crença de que só pode amar uma única
vez, a vida não pode parar por conta de um amor mal sucedido.
Agora, estava no último ano dos estudos e ela estava só.
Solidão de companhia amorosa, mas não de afeto familiar.
Durante as férias, conhecera outro amor , justamente no
momento em que passava por períodos de angustia, depressão,
sentindo-se a pior das criaturas, sem amigos, rejeitada por todos,
mal compreendida. Uma fase que tudo de ruim acontecia: no voley
que praticava não acerta uma bola, nas provas nenhuma nota
azul, já não era mais convidada para a roda de amigos,
e sucessivamente muita acontecimentos desfavoráveis iam
se desfiando vida afora. No momento de percas é que se
conhece o ser humano e suas fraquezas e a capacidade de se dar
lugar para a felicidade.
A apatia que toma conta de quem perdera um amor, chega a ser quase
uma obsessão, a tal ponto de não olhar mais para
o amor próprio. Por isso torna praticamente impossível
usar argumentos de benevolência, ou trazer à pessoa
a tona da realidade. Quanto mais se usava argumentos contra o
ex-namorado, mais a pessoa se aborrecia. Quanto piores tratos
recebia mais se sujeitava em ficar perto do pretencioso.
A perca da identidade trouxe momentos de inteira insanidade mentais,
e com isso tornou uma presa fácil de manipular, pois não
conseguia deixar de ler as mensagens falsas de amor. Assim as
palavras enchiam de esperanças a vida e a pessoa passa
a cultuar de um amor oportunista, malicioso dizendo que ama.
Embora conhecesse outra pessoa nas férias a jovem não
se oportunizava um novo conhecer. Foi ai que seu psicólogo
disse:
____Coloque nessa folha de papel, em duas colunas os momentos
alegres, as participações coletivas da vida que
você deseja, contra aquilo que não quer para você.
Prontamente a jovem tomou várias folhas de papel. Pensou,
pensou, chorou ao recordar, e trouxe à mente as lembranças
anteriores saíram e voltaram dentro de uma hora. Encheu
os papeis com a histórias, de férias, de viagens
feitas com a família, de festas juninas, de encontros na
escola, de piqueniques e rodas de tereré. Na medida em
que as folhas iam ficando cheias ela se deu conta do tamanho dos
malefícios que impediram-lhe e de crescer.
Assim compunha a lista dos bens desejáveis: o prazer reconhecido
pela presença do outro, a felicidade de um encontro em
fim de tarde, o prazer de uma caminhada, a experiência da
honestidade, da alegria de conter os vícios, da ausência
de traições.
Em contrapartida trouxe da memória em que momentos vivenciou
tais bens. Qual não foi a surpresa no momento que voltou
aos seus dezesseis anos e elencou: as imensas brigas por ciúmes,
a falta de confiança nas ausências, as relações
tumultuadas por traições, as tristezas pela falta
do companheirismo, as mentiras nas ausências, a perca da
própria identidade, as ameaças incontidas.
A historia de Jacobina , no conto de Machado de Assis, que tornou
Alferes aos 25 anos, causava inveja em muitos jovens da época,
assim como a jovem feliz do conto. O alferes eliminou o homem
e deu lugar para a inveja caracterizando duas almas. Uma alma
olhada de dentro para fora transmitindo anseios e valorizando
a consciência individual. Assim como a jovem de dezesseis
anos, simples que estudou e passava a ser vista como uma competidora
profissional.
Olhando a historia do conto de fora para dentro pode-se revelar
outra alma, composta de valores puramente interesseiros, indispensáveis
para o cumprimento de metas profissionais. Houve choro e ranger
de dentes revelando um tom de incertezas e volubilidade das coisas.
A alma exterior desabrochara e ganhara um peso maior, como a perda
dos educados e a morte do amor.
Não há como desacreditar no amor, ele está
posto para uma vida de compromisso sincero, capaz de atravessar
barreira, seja ela social , econômica , racial e temporal.
Um amor capaz de resistir ao tempo, resistir às tentações
do mundo, na busca da fidelidade.
O tempo de Jacobina não é o tempo da linda jovem,
mas não deixara de ser uma personagem que se sentia perdida
no tempo e no espaço, pela eternidade da espera do amor.
Tanto Jacobina como a jovem feliz tem no tempo o principal perigo
a desvendar. A angustia de Jacobina diante de sua imagem no espelho
a espera de alguém que nunca chegara , contrapõe
as angustias da linda jovem que não se confortava com a
perca do amor na adolescência.
O transcorrer do tempo acarretara uma sensação iminente
de depressão na jovem feliz que de certa forma contribuía
para a dissolução do seu “eu”, perda
da identidade, na crença de que o amor de férias
não valeria a pena.
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