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Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

Seria uma noite...


Como eram lindos os olhos dele! Na noite estrelada, na porta de entrada de nossa casa eu percebi que o negro ficava melhor naqueles olhos. Todavia, de algum lugar um vento passou rápido e deixou meus sonhos com medo de mergulhar naqueles olhos... Dentro deles havia muito desconhecimento: como seria minha primeira noite de amor, o corpo de um homem nu, carícias íntimas, prazeres...
E vi que o sonho é também passageiro, e que o amor pode ser duas mãos frias e grossas tateando sua pele (Arf!)...! Um quase silêncio na madrugada foi o que restou de minha primeira noite de casada. Eu gemia baixinho, acuada com meus braços embaixo de mim, deitada de bruços na cama. Não me mexia ou gemia. O corpo doía, mas a alma sofria mais.
Não houve palavras. Lembro-me de que peguei nas mãos dele e quis um carinho antes de tentar dormir. Encostado ao travesseiro ele me olhou e murmurou que estava cansado: “Depois”. Sim, depois talvez ele me falasse do cheiro de meus cabelos, do sabor de minha boca, ou me dissesse palavras engraçadas que me fariam rir e quebrar aquela tensão...
Seus dedos eram duros. Quase não pararam: e eu fiquei sem ação, sentindo-me violentada!
Havia o barulho do mato lá fora; havia o pio quem sabe de uma coruja; havia o galo que cantava anunciando que as horas da madrugada estavam se indo... Pois um pálido dia estava para nascer – de calor de verão, sol forte, latidos do cão e as visitas de minha família e da dele. E aquela sensação triste de que uma mulher casa com um homem para construir um lar me roía o cérebro.
Por que um frio repentino me chega agora? Já será hora de levantar e fazer café?
Uma noite inteira sem dormir que preste. A água do chuveiro desce lamentosamente suja de sangue por minhas pernas. Há quantas horas estou menstruada, meu Deus? Minhas pernas são dois pedaços de madeira morta, insensíveis ao meu toque, que sei por que estão doídas. É um arrepio, contra a toalha que me envolve. Meu cheiro é de sabão de lavagem de louça gordurenta, de tal modo ao corpo dele...
Os bordados da toalha da mesa da cozinha, as xícaras, o cuscuz quente... Posso repetir isso todos os dias interminavelmente. Não cabem flores no vaso. Mas juro que há uma laranjeira florida ao pé da janela do quarto. Brancas e cheirosas! Sempre existe uma imagem para se apoiar! Na verdade, assim não há apenas um ponto para se olhar...

 
 
Poema publicado no livro "Os mais belos Contos de Amor" - Outubro de 2016