Wagner Dias de Souza
Rio de Janeiro / RJ
O reencontro
Doce por fora e amarga por dentro. Pode-se dizer que essa era a síntese de Flávia, uma mulher muito bonita e atraente, porém adorava destratar seus pretendentes. Todo homem que por ela se encantava, era pisado pela própria. Gostava de dar ordens, sempre tinha a última palavra. Até que surge em sua vida um jovem que mexe com suas estruturas cujo nome é Maurício. Mesmo apaixonando-se pelo rapaz, ela não dá o braço a torcer. Finge dele não gostar, transferindo para ele a tarefa de seu coração conquistar.
- Se gosta de mim, tem que me ganhar – assim pensava a megera.
Maurício até se esforça para conquistar a pretensiosa, mas diante de tanta arrogância, desiste da amada e dela se afasta. A bela sente o golpe, mas não demonstra tristeza pela ausência do oculto amado. Arruma um namorado de fachada, embora por Maurício apaixonada.
O tempo passa e Flávia não sustenta a farsa. Entra em depressão. Psiquiatras, psicólogos, medicamentos pesados não reequilibram a sua emoção. Ela pensava no amado noite e dia, todavia o seu orgulho não a permitia procurá-lo. Que agonia!
Numa noite insone, repentinamente dorme. E durante o sono efêmero, surge um velho de barbas brancas e sorriso imanente, que lhe diz contente:
- Menina, se oriente! Vai acabar com a sua vida tomando tanto entorpecente, que não trará de volta o menino amado cuja falta sentes. Corra atrás dele e liberte essa vontade aprisionada em tua mente.
Do sonho acorda reluzente, decidida a procurar o outrora pretendente. Mas, para sua desagradável surpresa, descobre que Maurício foi estudar em terras de Madre Teresa.
- Ele ganhou uma bolsa de estudos no exterior – foi tudo o que uma amiga lhe revelou.
Desolada sentiu, pela primeira vez na vida, saudade de quem não queria. Apaixonada, só lhe restou a poesia.
Como parte da terapia alternativa, para vencer a depressão, começou a caminhar pela orla e a fazer meditação. Ela gostava de subir a pedra do Arpoador e lá no alto, diante do mar, refletir sobre a vida. Um dia, iniciou meditação que se tornou uma oração. Pediu aos céus a chance de reencontrar o amado sufocado em seu amargo coração.
Em dia de aguda saudade, Flávia rascunha a seguinte epopeia:
Saudade de um hoje não mais presente,
pessoa curadora do meu duro coração,
cujo orgulho abafou profunda emoção
asfixiando-o até a morte aparente.
Meus olhos buscam, insistentes,
a imagem do postulante parceiro,
jovem do crespo e negro cabelo;
claros dentes, sempre sorridentes.
O moço vislumbrado marido,
pai dos meus filhos, segredo,
evadiu por entre os meus dedos.
Meu coração ficou aflito, adoeceu
desconjuntando todo o meu eu...
saudades de um morto menino.
Publica a poesia na sua rede social. Sente uma alegria nunca antes sentida nesta vida. Liberta-se do arsenal de medicamentos, sente-se humana, uma pessoa normal.
Um belo dia, enquanto meditava no alto da pedra, ouve uma voz que a deixa alerta:
- Bonita poesia, menina!
Ela abre os olhos em sobressalto. Vagarosamente olha para trás. Era Maurício, solitário.
- Eu não morri; você tampouco.
- Perdoa-me pela tontice.
- Nunca te condenei. Apenas de ti me afastei para não odiá-la. Não posso sentir raiva de alguém que tanto amo.
Flávia abre um sorriso, seguido de um meigo abraço no presente amado chamado Maurício.
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