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Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

A senhora costureira

 

Uma senhorinha sofrida, um marido só de fachada. Tinha três filhos. Dois meninos e, a menina amada. Linda, pois a mãe também é muito bonita.
Nem bem deixou a adolescência engravidou. O rapaz não lá aquelas coisas, não era o que ela esperava para filha, mas como manda o figurino, casaram-se.
A mãe costureira, quase que diuturnamente para poder dar conta do recado, cedeu o seu porão ao jovem casal. O filho nasceu um menino cheio de saúde. Porém sem sustentabilidade, o amor, o compromisso se foi. O jovem casal pouco mais que adolescentes, foi cada um pro seu lado.
 A moça bonita não resistiu aos apelos da vida. Hoje um, amanhã outro, assim foi um bom tempo. Até que mais acomodada com um companheiro só encontrou guarida. Mais um filho. Esse, porém com grandes problemas de saúde. A mãe costureira tentando dar arrimo a família. Um dos filhos muito doente, sem encontrar razão para os males, mais vivia no hospital do que em casa.  
A casa da costureira mais parecia um lugar de sofrimentos do que uma residência. Só o sorriso dela, este sempre presente tentava animar e, encantar quem buscava os seus serviços profissionais.
O marido foi se acomodando e, nadam mais fazia. Ninguém o contratava para serviço algum, pois já sabiam da sua fama, trabalhava uns dias e entrava contra a firma por esse ou aquele motivo.
A vida ia seguindo seu curso. Alguns da família ajudavam com  recursos financeiros, outros com amparo pessoal, procurando animar, conversar, dar um pouco de guarida.
A criança doente passou por várias cirurgias. Foi crescendo e, um dia melhor, outro menos.
O marido acomodado adoeceu sem recursos, passou um bom tempo no hospital, não resistiu por muito tempo. Foi bem cuidado pela esposa. A costureira ficou sozinha, com dois filhos, ainda em casa.
Um dos moços, estudioso arrumou uma bolsa de estudo, se fez professor, aprumou na vida. Casou-se e vivem felizes. 
O outro também foi estudar, com muita dificuldade. As limitações físicas dificultavam tudo. A doença sem explicação o perseguia. Namorou foi morar junto. Mas a menina não agüentou o repuxo, jovenzinha, com marido doente poucos recursos, o abandonou. Ele, voltou para casa da mãe, mais doente ainda.
A filha bonita, aos poucos melhorou  na vida profissional, conseguiu um salão, tinha boa freguesia. Era bem prendada, atenciosa e carinhosa.Trabalhando no centro da cidade incentivou a mãe por uma sala de costura, junto ao Salão de Beleza. Assim ela teria horário para trabalhar e, em casa seria para descansar.  Houve, para a mãe costureira como que um renascer. A senhorinha estava alegre, bastante serviço, a vida parecia ser florida. Novos tempos.
Porém apresenta uns encalços daqueles. A moça bonita, com seus devaneios criava os dois filhos, sozinha, não conseguiu se encaixar numa vida mais tranqüila, precisava de aventura. O segundo pai também com seus encantos já tinha outra namorada.
As amigas do salão, também amigas das madrugadas trabalhavam juntas e faziam os seus programas. Sempre foi ela uma boa mãe. Se saia, um filho ficava com uma avó e o outro a mãe do companheiro.
Como tudo atrai perigo e, vida perigosa mais ainda, mulher bonita trás ciúmes  e desalentos.
Num desses terreiros que ainda existem por ai, numa leitura de cartas foi apontada como mau agouro para um casal. Não houve dúvida se ela trás ameaça é melhor eliminá-la, pois é jovem ainda muito bonita e charmosa.
Morava a filha bonita, com os dois meninos, numa casa de propriedade da mãe e nos fundos da casa da avó materna. Num Bairro um pouco distante.
Noite de sábado, as três amigas combinaram a noitada, prontas marcaram o encontro. Noite escura, a luz apagada. A casa um tanto isolada.
A avó, também tinha saído para um ir a um baile. Foram dados dois tiros. Quando, fechava a porta da casa, chamaram-na pelo nome, se virou e ali mesmo caiu. Ninguém ouviu nada.
As amigas tentaram telefonar, mas com pouco crédito não obtiveram respostas.  Alguns senhores também tentaram se comunicar. Até quem, não devia numa noite de sábado por ter outros compromissos, foi esse, o último telefonema a ficar registrado.
A madrugada foi chuvosa, o corpo da pobre e bonita moça, mãe carinhosa, amanheceu encharcado e congelado. Segurando a chave da casa na mão endurecida.
Com os primeiros clarões da madrugada, o senhor que cuidava da horta  no mesmo terreno,  foi colher os pés de alface, rúculas e outras saladas,  gritou ao ver o corpo, no chão já com o sangue endurecido.
Foi um alvoroço só. Quem teria atirado? Quem queria eliminá-la? Não fazia mal para ninguém. Trabalhava e cuidava dos dois filhos.
Polícia, EML, Autoridades, repórteres todos envolvidos, naquela trágica manhã de domingo.
A família só recebeu o corpo enrijecido, quase no meio da tarde. Com recomendações de sepultamento para aquele mesmo dia. Os dois irmãos, os filhos, a mãe uma consternação só. Não havia razão para tenta maldade.
A linda moça foi sepultada. Uma das amigas emprestou o túmulo da família, pois ela sempre dissera que não queria jamais ser sepultada em uma gaveta, num paredão, como dizia.
As perguntas continuaram. Poucas respostas. Não há segredo que perdure por muito tempo, A cartomante deu o recado. A morte foi encomendada. Preso o atirador, se chegou à mandante.
A costureira teve então que enfrentar o tribunal. Acompanhar os depoimentos. Ficou com a guarda do neto mais velho, esse pousava na sua casa no sábado que não amanheceu, para a moça bonita.
O menor ficou com o pai e a avó paterna que assumiu o papel de mãe. A criança ficou mais doente ainda. A falta da mãe carinhosa mexeu com o seu ser. Um câncer se instalou. Muita luta dos parentes e até da professora  que se envolveu e foi ao Pequeno Príncipe cuidar do menino.
O tempo passou, trouxe um pouco de consolação. A criança ficou curada, porém com algumas seqüelas neurológicas, pequenas, mas marcas.
O julgamento realizado, os dois bandidos na prisão. A pobre mãe-costureira assistiu a tudo. Suplicou que os meninos fossem poupados. Até perdoou o segundo marido da filha bonita, por tê-la deixado sozinha. Ainda  envolvê-la em outras situações. A saudade sempre perdura. Quem foi amada, não será esquecida.
Todos os sofrimentos um dia se revestem de luz, trazem consolo e alegria. Um senhor, amoroso, bom pai de família, viúvo se interessou pela costureira. Os dois, sozinhos com os filhos criados, com netos, pensaram que podiam ser felizes juntos, reconstruir um presente no aconchego de um novo lar. Para ele, as lembranças eram salutares. A sua esposa fora muito amada.
Pra ela, as lembranças eram mais sofridas. O filho doente conseguiu terminar os estudos, também vencer a doença. Professor de Educação Física, casou-se e, tem um menino.
Depois da notícia, do namoro, os vizinhos, amigos e, parentes apreensivos, diziam: não será mais uma decepção para ela?
Foram, porém percebendo que a vida finalmente sorriu para costureira. Encontrou, ela um companheiro amoroso. Cuidam da casa, juntos. De mãos dadas, saem para os matines nas quintas-feiras. Viajam, curtem um ao outro e a família.
Vivem agora felizes carinhosos. Ela encontrou o amor que existe e, faz as pessoas sentirem se bem. Na maturidade, vivem eles um romance, jovem. Para se ser felizes e apaixonados não existe idade. E, sim o momento certo.
   

 

 
 
Poema publicado no livro "Os mais belos Contos de Amor" - Outubro de 2016