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Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

  Fantasmas

 

Todos nós, temos os nossos fantasmas, que nos acompanham, do nascimento até o dia em que morremos. Depois que isso acontece, viramos nós mesmos,um fantasma.
Fantasmas variados, múltiplas facetas de uma única vida.
Um fantasma bem travesso, acompanha-me desde a infância. É ele que me faz chorar escondido, roubar o doce guardado…sagrado.
Da adolescência perdida, outro fantasma surge: o do medo da rejeição ao nosso impulso febril de amar e sermos amados. Esse tem espinhas no rosto e por todo o corpo muita tesão (estados de excitação do ser).
Buúúúú…buúúúú… Fantasmas…fantasmas… Ao longo do tempo e da vida.
E aquele fantasminha camarada, que só quer conosco conversar? Dele corremos e começamos a gritar, quando aparece. Coitado do Gasparzinho!...
O fantasma camarada e o nem tão camarada assim…
Ao fantasma que nos protege dos perigos, quero agradecer. Foram inúmeras as vezes em que esteve a meu lado. Certa vez, evitou que eu fosse atropelado, e quase foi atropelado também, tamanho o seu descuido.
Fantasmas…fantasmas…
Um impotente fantasma, que tudo quer e nada consegue…
O fantasma que consegue coisas, graças a outros fantasmas que o ajudam, sem que ele perceba. Esse acredita na generosidade da vida e por isso nada lhe falta.
O fantasma do medo… o fantasma medroso, covarde, que não tem coragem sequer de atirar uma pedra, em quem atira pedras num cão indefeso. E nem mesmo tem coragem de dar um tiro no rosto de alguém, ou mesmo de matar esse alguém envenenado, num banquete grátis a ele oferecido gentilmente; numa mesa retangular comprida, onde os olhares apaixonados se encontram, no fim do mundo do amor. Banquete esse, ofertado numa bandeja de prata, cheia do sangue vermelho da ingratidão e do irreconhecível, no jogo da sedução, onde amor e ódio se mesclam, num abraço acalentado. Veneno que envenena e corrói a alma. Esse fantasma é, na fase adulta, o remanescente daquele da adolescência perdida.
E o fantasma que habita o cemitério e suas redondezas? Com esse, às vezes, queria encontrar-me. Só que dentro de casa…pois dentro da imaginação, ele sempre está por onde ando. Certa vez, um seguiu-me até a ponte e quase atirou-me dentro do rio. Doutra feita, quis afundar-me nas areias movediças do tempo.
Ó alma sensível! Os fantasmas não são frutos da imaginação. São, antes, frutos da vida em si e por si. Existem porque existem…É aquela velha história, semelhante à das fadas:
“Não acredito neles, mas que eles existem, existem.”
…Vagando sobre a relva molhada do jardim, na noite perdida da vida.

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Novembro de 2016