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Fernando Tadeu de Moraes
Itajaí / SC

Mais do mesmo

 

     É assim que as coisas são...
     Os amigos te abandonam, e tua namorada te deixa pelo simples fato de não entender a forma que tu pensas, ou por não pensares (como deveria); nada nunca é bom o suficiente.
     Bom... agora me vejo aqui numa forma da qual várias e várias vezes pensei em estar.
     Alguma carta ou bilhete próximo para encontrarem?? NÃO. Não saberia como me expressar nessas situações. Mas, pensando bem... Para quem escreveria? (...) Todos me deixaram! Todos estão preocupados demais com suas vidinhas tolas, medíocres e sem sentido.
     É nessa hora que preciso rir?! Mas não rir para não chorar, e sim, rir da minha própria estupidez. Pois quem em sua plena consciência faria tal coisa? Só mesmo alguém fraco e estúpido.
     Me olhei no espelho pela última vez... meu semblante deplorável. Os olhos cansados de tanto me ver, e ver os outros por quem nunca tive compaixão. Amor...
     Tomo um bom banho morno...  Sinto a água escorrer pelo meu cabelo comprido e desgrenhado; a barba grossa e falha, então depois as costas marcadas, virilha e por fim os pés descalços sobre o piso.

     Finalmente me afundo no velho e gasto sofá de couro marrom de quatro lugares – lugares esses que nunca mais serão ocupados – acompanhado da única garrafa de conhaque que bebi durante toda essa minha vida. Lembro vagamente que ganhei a garrafa de um amigo. Amigo esse que já não está mais aqui. Antes bati algumas palavras na máquina de escrever... mas não pensem ser uma pobre carta de despedida, pois (como disse), não sou bom nessas coisas. O que escreveria? Palavras bobas de arrependimento? Iguais as ditas nos cartões de Natal? (um breve sorriso tolo) Faz tempo que deixei de gostar dessa data. Ele (O Natal)... nos dias de hoje uma data pueril, onde pessoas que se odeiam o ano inteiro a usam como desculpa para reatarem amizades, ou apenas para fingir ser aquilo que não são...
     Me levanto e vou até a geladeira. Ao fazer isso sinto a cabeça pesar e uma leve tontura. Abro a geladeira e pego o que sobrou de um salgado. Um agrado da vizinha que, vez ou outra me fez companhia, mas que logo se cansou devido... Pego a travessa e como o tal salgado sem esquenta-lo no micro-ondas, mastigo de boca cheia a massa assada com frango desfiado, e bebo meia garrafa de vinho. Volto para a sala e de novo me sento no velho sofá de couro. Minhas mãos tremem... deve ser do maldito vinho que misturei ao conhaque, ou do medo de fazer isso. Em minhas mãos sinto o peso e o frio do metal... Creio que será rápido. Mas... e se não for? Ficar agonizando feito um porco, sangrando bem no meio da minha sala onde por tantas vezes eu... eu... Bom então... Que tudo dane-se de uma vez.

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Novembro de 2016