Maria
Rita de Miranda
São Sebastião do
Paraíso / MG
Amor passageiro
Férias de verão. Qualquer coisa dá início
a uma amizade. Para que nasça um idílio, basta a
solidão e a luz do por do sol. É um tempo de efêmeros
amores que talvez nem cheguem ao outono.
As praias do nordeste do país, todos os anos, são
visitadas por centenas de pessoas vindas dos mais diferentes lugares.
O sol escaldante dá ainda mais um tom de ardência
tanto na pele como nos corações dos jovens descompromissados.
A alegria parece ser obrigatória para todos. Tomando banho
de mar, bebendo nos quiosques, desfilando com a roupa de banho
minúscula, ou só se escaldando numa toalha estendida
sobre a areia quente, as garotas provocam, mesmo que involuntariamente,
os olhares ávidos dos rapazes.
Lúcia era uma menina simples, do centro oeste do país,
que trabalhava para se sustentar e ainda ajudar um pouco a família.
Dotada de uma beleza fora do comum, arrancava suspiros de admiração
dos jovens de sua cidade, bem como olhares invejosos de algumas
garotas.
Foi com grande esforço que ela conseguiu economizar alguns
trocados para, nas férias conhecer o mar do nordeste, um
sonho seu.
Quando janeiro chegou comprou algumas roupas novas, despediu-se
da família e sozinha enfrentou a longa viagem. Chegou tão
exausta que no primeiro dia só observou a paisagem marítima
de relance. Precisava descansar.
Após uma noite bem dormida, toda refeita e linda, saiu
da pousada onde estava hospedada e foi pisar a areia quente e
clara pela primeira vez. Sentia-se radiante e ávida de
aproveitar o máximo esta semana que certamente passaria
voando e ela teria de voltar para a sua rotina.
Logo conseguiu se enturmar com um grupo de garotos e meninas que
também por ali se divertiam jogando conversa fora e enfrentando,
por alguns minutos, um mergulho nas ondas que vinham se arrebentar
bem perto da areia. Não pode deixar de responder a algumas
perguntas que lhe faziam. De onde era, o que estudava, quais lugares
conhecia, a profissão de seu pai. Lúcia, querendo
impressionar, respondia a tudo com pequenas mentiras que foram
crescendo. Que importância tinha? Neste lugar o sol brilhava
igualmente para todos.
Tornou-se de súbito, uma menina muito rica, independente,
que viajava sozinha todas as férias, estudante de economia
para no futuro tomar as rédeas dos negócios da família.
Um rapaz, João, se encantou logo por ela. Aproximou-se
mais e trocaram olhares comprometedores. Logo se isolaram. Ela
ficou radiante por despertar aquele interesse repentino, ainda
mais sendo João bonito, falante, especial mesmo.
Como era de se esperar, a semana passou mais que depressa e Lúcia
teria que retornar. Outras mentiras foram acrescentadas às
primeiras. João absorvia tudo com entusiasmo, pois estava
de fato interessado por ela. Prometeram se corresponder e os endereços
eletrônicos foram trocados. Despediram-se impetuosamente
e Lúcia se foi.
Já no dia seguinte recebeu o primeiro e-mail, respondeu
e não pararam mais. Depois de algumas semanas, quando Lúcia
foi dar uma olhada no seu face book, deu com um pedido de amizade.
Espantou-se ao deparar com o nome de João do Nordeste,
como era o apelido do namorado. Anexou-o aos amigos e se retraiu
ao ler a primeira mensagem enviada por ele: - Por que tanta mentira?
Achou que não seria descoberta? Eu a encontrei no face
com um perfil completamente adverso daquele que você me
pintou. Bonita por fora, mas simulada. Para mim não serve!
Lúcia deletou seu nome do face. Não queria, nem
podia se explicar. Mudou seu e-mail e não mais detectou
o João, seu suposto amor.
Sofreu por algum tempo, pois não tirava de sua cabeça
a ideia de que poderia ter sido aceita pelo que era e não
pelo que possuía. Culpou-se, mas o fato já estava
consumado. Um dia talvez voltasse ao nordeste e quem sabe conseguiria
se redimir. Também, pensava, como pude me esquecer de que
hoje em dia, através das redes sociais fica quase impossível
ser uma completa desconhecida? Um sorriso maroto lhe aflora e
ela se desculpa: foi uma mentirinha de nada, assim como este amor
de verão que não conseguiu durar nem mesmo até
o outono.
Mas quem a observasse de perto veria uma lágrima teimando
em cair, de um olho só, pela face rosada de Lúcia.
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