Isabel
Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
Indigestão
Catarina é uma mulher jovem por volta dos quarenta anos.
De família humilde com pai e mãe trabalhadores,
pessoas decentes que se empenharam para oferecer segurança
aos filhos.
Ambos estudaram, trabalharam desde cedo para conseguirem seus
objetivos.
Os pais levavam uma vida normal, sem atropelos.
Catarina casou por volta dos vinte anos de idade.
O marido, uma boa pessoa, dedicado, gentil, trabalhador.
Casaram depois de um tempo não muito longo de namoro.
Eram felizes e sempre se apoiaram um no outro.
Ela nunca parou de trabalhar, ao contrário, trabalhava
e estudava para conseguir se formar na universidade. Formou-se,
fez pós-graduação, mais outro curso para
complementar os estudos. Chegou a trabalhar e cheou à chefia.
Adquiriram casa, carro.
Criaram filhos, não imaginavam que a vida poderia mudar
tanto.
Ele, o marido, perdeu o emprego em que trabalhava e ela, após
uma reformulação na diretoria da instituição
na qual exercia cargo de chefia, também se viu, de uma
hora para outra, desempregada.
Era otimista, imaginava que com sua qualificação
logo arrumaria trabalho. Não imaginava que ia ser uma via
crucis sua procura e nem que iria ser alvo de discriminação
por já estar na faixa dos quarenta anos.
Procurou um mês, seis meses, seu ânimo arrefecendo
e nada de obter uma colocação.
Dois anos se passaram. Não procurou mais, deixou de enviar
currículo. Passou a fazer lanches para fora que são
vendidos nas empresas.
Hoje, Catarina se questiona onde errou, se é que errou.
Depois de vinte e cinco anos de trabalho não tem esperança
de ver a situação revertida em curto prazo.
Esta não é uma situação isolada em
uma sociedade com valores tão questionáveis com
relação ao tratamento dado à pessoas em processo
de envelhecimento.
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