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Luiz Francisco Silva
Pinhais / PR

 

Dolores

 

     A porta do quarto ficou entreaberta. Se havia alguma intenção, era difícil saber.
          Jeremias, depois de colocar os pequenos na cama, ficou andando de um lado a outro. Seu desejo de deitar-se ao lado de Dolores era imenso, mas ele sabia que era preciso ter cuidado. Era bem possível que a mulher, sempre muito determinada, jamais o aceitasse como marido, como homem... Talvez o aceitasse só mesmo como pai dos meninos, que a essa altura nem mais precisavam dele.
        Antes de tomar qualquer decisão ele entendeu, ou quis entender, que a toalha limpa e seca colocada no banheiro do casal era sinal de que pelo menos o banho lhe era permitido. Ao olhar para o espelho observou o quanto seu rosto envelhecera nesses anos. Ao contrário da mulher, que se mantivera jovem e bonita. Mesmo com algumas marcas estampadas no rosto ela ainda guardava o viço da juventude.
       Depois de pronto, saiu do banheiro e ficou por muito tempo à beira do quarto observando o suave ressonar de Dolores. Parado ali, começou a repensar sua vida, suas fraquezas, seus desencontros e seu estado de miséria, que o havia trazido de volta a casa.
       Cansado, recostou no batente da porta, deixando seu corpo escorregar lentamente até o chão. Não conseguindo lutar contra o sono, acabou dormindo com a cabeça no quarto e o resto do corpo espremido no corredor.
       Dolores, que geralmente dormia tão pouco, nessa noite dormiu feito uma pedra. Ao acordar sentiu um cheiro bom de café vindo da cozinha, e então lembrando-se de Jeremias, deixou-se ficar na cama por mais tempo, pensando na possibilidade do mesmo ser servido na cama, como já fora em outro tempo.

 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016