Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

A casa encantada

 

           

Era uma vez uma casinha no meio do nada. Nada cantava, nada voava, nada caminhava na direção da casa: sempre tão fechada!
Nessa casa, havia uma mulher que passava os dias sozinha (apenas com seu suspiro para o teto ou para as paredes), sem nunca ter com quem conversar.
Era um tempo em que chovia todos os dias e até existia, havia séculos, um riacho perto da casa, mas nenhum peixe vivia nele. Quando a chuva dava uma trégua, a mulher tinha o costume de ir ao riacho tomar banho e procurar por animais ou ao menos algum som para acalorar sua vida. O estranho é que se a mulher abria a porta da casa para sair, mesmo tendo um sol brilhante, ela a fechava rapidamente, e nem notava, de tão ansiosa por encontrar algum ser vivo com quem pudesse conversar, que a porta ficava triste, quieta, na expectativa de que a dona da casa voltasse e a abrisse para pegar um pouco de sol e aquecer, de igual modo, a sala da casa. Nem mesmo fazia isso quando voltava do banho, em que a mulher já estava com frio e pensava apenas em se aquecer perto do fogão a lenha.
E vieram dias – ping-ping – e noites de uma chuvinha fina... E veio pelo céu um vento empurrando as nuvens escuras...
Então, surgiu uma manhã de sol e depois que a mulher tomou o café, ela não aguentou mais ficar sozinha trancada em casa e indo buscar um álbum de figurinhas antigas caminhou na direção da porta, abriu-a e sem fechá-la dirigiu-se para uma pedra que havia próximo ao riacho embaixo de uma árvore. Nesse momento, uma luz passou pela porta da casa, entrou na sala, percorreu todos os cômodos e voltou, parando ao lado do riacho, clareando ainda mais a manhã.
A mulher, encantada com o clarão do dia, sentou-se na pedra. Então, passou cuidadosamente as mãos pela capa do caderno de figurinhas e, quando abriu a primeira página, ouviu o berro de um bode:
— Bérrr! Bérr!
Ao escutar o brado do animal, não aguentou ficar sentada e começou a cantarolar e a berrar: “Bérr! Bérr!”.
Assim, a mulher descobriu que podia bodejar como as cabras ouvindo os berros toda vez que movimentava a folha onde estava uma figurinha de um bode. Ficou satisfeita com isso, entendendo que talvez outra folha do álbum pudesse conter mais figurinhas que fizessem sons.
Ah, ela abriu outra página, que justamente tinha a figurinha de um belo botão de rosa! Este saltou da página e caiu em cima da pedra, perfumando tudo. A mulher cuidou em colocá-lo longe da folha que continha a figurinha do bode, como forma de proteção, considerando que o animal pudesse sentir fome e quisesse comer o cheirosíssimo botão de flor.
Com uma alegria inusitada e se sentindo estar num jardim, passou outra folha do caderno de figurinhas. Um pequeno beija-flor iniciou a dar voltas em torno do botão de rosa. O pássaro arrulhava com seu fino e longo bico, enquanto ia e voltava, enquanto subia e descia até que parou em pleno ar, extasiado, com as asas trinando num voo em que apenas os beija-flores sabem fazer.
— Estou com o coração saltitando de felicidade! — suspirou extasiada a mulher.
Então, ela rapidamente virou a próxima página querendo saber o que iria surgir. Não foi espanto quando se ouviu os miados de um gatinho:
— Miau! Miau!
A mulher quis fazer amizade com o gato e correu em casa para pegar um pires de leite. O gatinho logo que bebeu o líquido sentou no colo dela e ronronou contente: “Miau!”.
Ela olhou o álbum e viu que ainda tinham outras páginas e, quem sabe, com tantos segredos! Foi por esse motivo que passou outra página com as mãos trêmulas de curiosidade. E qual não foi sua surpresa quando uma borboleta bateu asas em torno do botão de rosa. Ora, foi nessa ocasião que o beija-flor disse, assim, mais para a borboleta:
— Olha que agora podemos voar todos os dias de sol e sermos grandes amigos!
Ouvindo isso, a mulher não se sentiu mais sozinha. Porém teve medo de colocar o álbum de figurinhas na estante da sala e tudo não passar de um sonho. Uma pessoa solitária pode até morrer de tristeza e ela não queria isso. Principalmente agora que vira e sentira a beleza dos animais e das flores.
Mas foi quando precisou se levantar para entrar em casa devido a uma forte chuva que se aproximava que ela sentiu cair uma figurinha do álbum. Todavia, sem dar atenção ao fato de que a mesma caíra no riacho, ergueu-se com o caderno nas mãos.
Pois a figurinha era de um peixinho que imediatamente nas águas mergulhou e depois surgiu na superfície.
— Glub-glub! — ele fez e a mulher o viu.
Toda contente, ela levou o álbum para dentro de casa, esperando que a chuva passasse para poder ir ver melhor o peixinho dentro do riacho.
Logo que o temporal acabou, ela abriu a porta e também as janelas da casa. E foi assim que viu que o gato estava embaixo da mesa (cheio de vontade de correr) e viu ainda que o bode berrava ao lado do riacho. Mas havia, além disso, outras coisas para observar: pássaros voavam, indo e vindo, e cantavam num lindo jardim próximo à janela da sala enquanto borboletas de todas as cores faziam festa perto de um roseiral.
Os braços da mulher se abriram e como se ela pudesse voar apurou o ar da manhã e se encheu de tanta alegria que sua casa no meio do nada passou a ser perfeita – onde pode ser nosso mundo dependendo da imaginação de cada um.  

 


 
 
Poema publicado no livro "Contos de Outono"- Edição Especial - Junho de 2017