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Andreia Chaves Pedrosa
Manaus / AM

 

O encontro

Naquela tarde, o céu anunciava a chegada de uma grande tempestade. As
nuvens pesadas e acinzentadas escondiam raios ainda silenciosos. O vento começava a ficar cada vez mais forte, revoltando a copa das árvores. E na única mesa ocupada daquela sorveteria, ela conferia o celular insistentemente, mas não havia nenhuma chamada, nenhuma mensagem, nada que pudesse justificar a ausência. Era chegada a hora de desistir e voltar para casa com o coração magoado e sem respostas.
Ainda que quisesse esperar um pouco mais e manter uma chama de esperança, ela pensou: “– Não posso aceitar uma hora de atraso! É
imperdoável. Às vezes, eu acho que é isso que o tempo faz, torna a relação uma rotina. E aí, chega a grande e perigosa mesmice e acaba que um dos dois enjoa. Não adianta ficar aqui segurando essa mesa, só ocupando espaço, num lugar que por tantas vezes já foi nosso.” – ela olhou em volta, levantou-se e saiu.
Apesar do caminho de volta para casa ser relativamente longo, aquela
caminhada lhe daria o tempo necessário para deixar as lágrimas rolarem à vontade pelo seu rosto, sem se incomodar com perguntas. E ela aproveitou que as primeiras gotas frias da chuva começavam a cair e permitiu o seu pranto.
O tão esperado encontro, agora, nada mais era que uma dolorosa
decepção. Eles nunca haviam passado tanto tempo distantes um do outro.
E estava claro que aqueles nove meses foram férteis o bastante para
levantar dúvidas, causar inseguranças e abrir uma fenda enorme entre os dois. Nunca se imaginou, que uma viagem a trabalho pudesse por à prova um relacionamento alicerçado na mais profunda amizade e cumplicidade. Um amor que os unia há anos.
Angustiada, ela estava perdida entre os seus pensamentos confusos.
Mas, um sentimento de tranquilidade e proteção tomou conta do seu coração, quando finalmente, avistou a sua casa. Parou. Respirou profundamente. Ela sabia que precisava se acalmar. Pensou em verificar
mais uma vez o celular, mas desistiu e logo retomou sua caminhada.
Passou pelo portão. Subiu correndo o lance de cinco degraus. Cruzou a
varanda e tentou olhar pela janela se havia alguém na sala. No entanto, as cortinas a impediram. E ao tentar girar a maçaneta, a porta rapidamente se abriu e ela foi envolvida por braços fortes e calorosos.
Aquele abraço tão familiar denunciava corações inquietos. E naquele momento, ela tremia não apenas pelo frio que sentia, mas pelo
sentimento de fúria que se alastrava por todo o seu corpo, a impedindo de defender-se ou mesmo de retribuir o carinho. E aos poucos, ela foi se desprendendo, empurrando-o, determinada a olhar em seus olhos. Mas, no fundo sabia que seria quase impossível encará-lo, ainda assim reuniu forças e falou decidida:
        - Saia daqui!
        - Espera. Nós precisamos conversar. Por favor, me escuta... – ele
tentava sem sucesso segurar as suas mãos.
        - Acho que já foi o suficiente... - falou sarcasticamente, cruzando os braços e tentando conter as lágrimas - Por favor, digo eu. Some de uma vez. Você nem foi ao nosso encontro depois de tantos meses longe.
Eu não quero mais escutar você, eu não mais te ver...
        - Espera! Eu sei que você está chateada e tem toda razão. Foram os
meses mais difíceis para nós dois. Parece que muitas coisas mudaram entre nós, mas eu sei, e você também sabe que o sentimento é o mesmo, e ainda mais forte. Eu prometo que não ficarei nunca mais longe de você. E se for preciso, te levo comigo – sua voz estava carregada de certeza.
        - Não faz assim. Não vamos prolongar ainda mais essa dor... – nesse
momento, ela não conseguiu mais segurar as lágrimas.
        - Do que você está falando? Eu sei que a distância trouxe inseguranças, mas eu sei o que eu quero!
        Ela notou que ele também estava com as roupas molhadas, mas não só
por tê-la abraçado. Seus cabelos também estavam úmidos. “- Será que ele foi ao nosso encontro?” – ela pensou e por um instante, ela cogitou perguntar, mas seu ressentimento era maior. Então, começou a empurrá-lo com todas as forças que ainda lhe restavam. Ele tentava acalmá-la e manter-se firme, mas eles já estavam quase atravessando toda varanda, chegando bem perto da escada que alcançava o portão. Quando surpreendentemente, ele foi ao chão, ajoelhando-se aos seus pés.
        - Eu sei que errei. Eu achei de verdade que chegaria a tempo... – ele
falava rápido e ofegante, mas, ela o interrompeu bruscamente.
        - Assim já é demais, por favor, levante-se e saia daqui! – ela recuou
alguns passos e foi assim que percebeu que ele também chorava.
        - Perdoe-me. Mas eu só me atrasei porque eu queria muito te dar isso.
– ele abriu uma de suas mãos, revelando a caixinha mais preciosa e
inesperada que ela poderia ver naquele momento. Ele permaneceu de joelhos, encarou com ternura o rosto de sua amada e falou: - Você aceita ficar ao meu lado por toda eternidade e mais um dia? Você aceita casar comigo? – agora o seu rosto tinha o sorriso mais iluminado, aquele sorriso que a conquistou e, que mais uma vez a conquistava.
        O primeiro “sim” foi um gesto confuso feito apenas com a cabeça, já
que todo o seu corpo havia sido tomado por uma sensação inexplicável de surpresa e de felicidade. Mas em seguida, ela caminhou até ele, ajoelhou-se diante daquele que ela sabia que seria o seu amor para toda vida. O abraçou com toda saudade que sentia. E finalmente, olhou em seus olhos, segurou o seu rosto e disse:
- Sim!

 

   
Publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição Especial - Maio de 2015