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Alberto Magno Ribeiro Montes
Belo Horizonte / MG

 

Ando sem inspiração

 

 O escritor, às vezes passa pelo dilema de não se sentir inspirado em determinados momentos. Isso pode ser por pouco tempo ou mesmo durar dias…meses… Gosto de escrever, porém há dias em que nada me vem à ideia, por mais que eu me esforce. De repente, sem eu menos esperar, a inspiração volta. Houve uma época em que eu queria escrever sobre algo e por mais que eu tentasse, não conseguia. Aí então, pensei: ultimamente tenho andado sem inspiração! Tentei pensar nos temas inspiradores  mais recorrentes para quem escreve, (principalmente poemas), quais sejam: amor, morte, saudade, solidão, desejo, traição, separação, etc. Li uma vez a frase: “Só escrevemos porque sabemos que um dia iremos morrer.” Deduzi então que a morte é uma fonte inesgotável de inspiração. E meditando sobre tudo isso, disse a mim mesmo, em tom de brincadeira: “Acho que a poesia morreu!” Então, comecei a redigir sobre esse assunto. Saiu o seguinte:

 

Ando sem inspiração…
Será que a poesia morreu?
Seu cortejo fúnebre viste passar?
Milhões de formigas a carregá-la…
Nem um verso concreto me vem à cabeça.
Abri Castro Alves página 74.
Nem isso adiantou!
Pensei na morte, que tanto nos inspira.
Nem isso adiantou!
Lembrei-me de seus lábios, grandes…pequenos…rosáceos
A roçar-me.
Nem isso adiantou.

Ando sem inspiração.
Por que isso me intriga tanto?
Nem isso adiantou!
Nem mesmo viver
-espetado como um alfinete de ouro em seu coração de ferro-
No país mais musical e poético que existe no mundo, adiantou.
Sobre o quê escreverei?
Ando sem inspiração!
Se a poesia morreu,
Onde andará sua alma?
Errática pelos campos,
A galopar num cavalo branco?
Ou na negra barca, já quase no meio do rio?
Que existirá após essa travessia?
Será a outra margem melhor que esta?
O medo que temos deste destino inevitável
Reside justamente nisso:
No fato de não sabermos o que lá nos espera.

Não disse que a morte inspira?
É só evocá-la e ela aparece toda sorridente
E vem pra pertinho de nós.
Já estou sentindo-a roçar-me, avidamente…
Ou serão seus lábios, novamente?
Difícil distinguir uma coisa da outra.
Serão a mesma coisa?
Minha morte em seu corpo…
Nada existe mais linda que a morte
Momento mais mágico e poético pelo qual passamos.

Nascer não tem graça!
Morrer é sublime!!!
É nascer de novo!
Que coisa mais sem graça!
Nascer e morrer
Morrer e novamente nascer.
Deveríamos ser eternos, como Deus.
Por que só Ele tem esse privilégio?
Ou deveríamos não nascer, nem morrer
Ter ficado lá, onde estava o Universo
(ou o “Uni-Verso”) antes dele ter sido criado.
                                   ---
Oh, Morte, como tu és linda!
Se todos fossem iguais a ti, os salões de beleza faliriam
Oh, Morte, como tu és sedutora!
À tua sedução
Nem Ele resistiu
E extasiado ficou, em tua companhia
Por três longo dias, mergulhado em teu mistério.
Ele, que nos presenteou em vida, com duas formas de morte:
A do sono diário e a do gozo esporádico solitário.

Ah, Morte!
Selvagem, livre po/e/ma.
Luz que ilumina o mundo!
Como me inspiro em teus braços!
Embala-me até eu adormecer.
Mas não te enganes:
Não me leves ainda
Estou apenas dormindo.
Como teu colo é aconchegante!
Beija-me languidamente!
Com tua foice afiada, decepa-me a cabeça.
Por que será que não nos deixa ver teu rosto?
Só permites que vejamos teus olhos
E como são lindos, penetrantes, brilhantes, luminosos
Poderoso ímã que nos seduz e conduz e reduz…

Obrigado, Morte!
Não fosses tu, não haveria inspiração no mundo.
És tão inspiradora
Que nunca precisas de revisão ortográfica.

Andava sem inspiração
E, de repente, ela voltou…

 
 
Conto publicado no livro "Contos Fantasticos - Edição 2016" - Setembro de 2016