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 Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

Um grande homem

 

Celestino Fornari, nasceu na linha Borghetto, em Anta Gorda pertencente a Encantado, -RS, em 6 de abril de 1920, exatamente 34 anos após seus pais Fornari, Luigi Giovanni Battista e Goffi, Felicidade Adelaide terem desembarcado no Brasil.
O pai natural de Motta Baluffi, uma comuna da província di Cremona na região da Lombardia. A mãe de Castelgomberto – Torri di Quartesolo,comuna italianaprovíncia de Vicenza. Ainda crianças, viajaram no mesmo navio em busca de uma Nova Pátria.
Celestino, o caçula dos 15 filhos do casal de italianos. Residindo em Arvorezinha, Rio Grande do Sul, trabalhou nas terras dos Fornari e, também  no frigorífico Busetti Fornari de Borghetto - Anta Gorda-RS.
Aos 21 anos alistou-se para servir o Exército Brasileiro, corria o ano de  1940. Desejava sair de casa, buscar novos horizontes. Moço bonito estava noivo. Possuía um bócio que o deixava constrangido. No quartel consegui o seu sonho, passou por uma cirurgia. Estava agora, livre do incomodo adquirido quando criança por ter começado muito cedo a puxar toras no mato. Um serviço pesado.
            Foi aceito, em 20 de fevereiro de 1942, no 5º. Regimento de Artilharia Montada “Regimneto Mallet” a escolha foi por sorteio. O Regimento logo depois, foi extinto e assim ele foi transferido para a I Região Militar em Santa Maria da Boca do Leão - RS.
O Brasil declarou Guerra ao Eixo, em 31 de agosto de 1942. O soldado foi para o Front. Viajou no transatlântico “USS General Mann” em 22 de setembro de 1944. Pertenceu ao 2º. Escalão comandado pelo General Cordeiro de Farias. Desembarcou no Porto de Nápoles, todo destruído pela Artilharia alemã.
No período de 06 de outubro de 1944 até 11 de agosto de 1945, lutou na Itália. Em terras estrangeiras serviu no I Grupo de Artilharia (I/IR.O.AU.R.), durante 11 meses. No Teatro de Operações, foi Identificado: Celestino 3 G 66307 - T 44 A- BRA.
Alojaram-se em barracas de Campanha, muito simples, de lonas, sem conforto, sem segurança alguma, enfrentaram o frio rigoroso de 22 Graus Negativos.  As míseras barracas foram fornecidas pelo 5º. Exército Americano, comandado pelo general Mark Clark ao qual a Força Expedicionária Brasileira passou a pertencer.
Por decreto, em 1944, a Capelania Militar enviou para a Europa os voluntários 30 sacerdotes católicos e dois pastores evangélicos. O papel deles era oficiar missas e cultos na retaguarda. Confortar com assistência individual os integrantes da tropa. Eles, mais as enfermeiras foram importantes para consolar os Pracinhas, na dura realidade de uma guerra, nos momentos de extrema privação e dor.
O comando ordenou, aos soldados brasileiros para avançarem, dada por um telefonema, no dia 12 de abril de 1945. Se não encontrassem resistência, o 3º Batalhão do 11º. Regimento de Infantaria da FEB deveria seguir para as colinas de Montese, pequena cidade ocupada pelas tropas do Exército Alemão, no Norte da Itália.
Fortemente armada, a patrulha da FEB, com 21 homens partiu às 9h e, depois de passar sem resistência por Montaurigula, seguiu para Montese. No caminho, depararam com uma colina alongada, de onde retiraram 82 minas.
Celestino esteve em combate na manhã do dia 12 de abril de 1945. Os homens da FEB romperam as linhas alemãs nos últimos contrafortes dos Apeninos, mas a tomada de Montese, na noite de 14 para 15 de abril, custou-lhes muito caro. Foi à batalha mais sangrenta para nossas tropas desde a Guerra do Paraguai, com um saldo de 426 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos.
Depois de intensos combates, foram vencendo a resistência alemã e, na noite de 14 de abril, já haviam dominado as encostas a Sudoeste da cidade, com reforço de outros dois pelotões. A capacidade defensiva da infantaria inimiga estava quebrada, mas a luta entrou madrugada adentro. Apesar da grande quantidade de alemães em Montese, a artilharia das forças alemã da Wermacht descarregou naquela noite cerca de 2.800 tiros.
Celestino Fornari, atuou no I Grupo de Infantaria quando da tomada de Monte Castelo, grande feito do Brasil na Segunda Guerra Mundial, no dia 21 de fevereiro de 1945, se deve à bravura dos soldados brasileiros. Considerada a mais importante fortaleza de toda a Linha Gótica, às 18h30min, Monte Castelo estava em poder dos brasileiros.
Duas semanas depois a guerra na Itália chegaria ao fim. Em homenagem aos brasileiros, Montese construiu o Museu Militar da Força Expedicionária Brasileira, no interior de um castelo do século XII.
Fez-se presente com galhardia, era motorista, com a motocicleta, à noite, sozinho emendava os Fios do Telégrafo, cortados pelos alemães. A comunicação se fazia essencial.
Não foram eles, os soldados preparados para a Guerra, não conheciam montanhas cobertas de neve e, nelas tiveram que lutar. Foram trocados pela Siderúrgica de Volta Redonda. Homens jovens, filhos da Pátria, serviram de bom negócio para o desenvolvimento do Brasil. Não receberam, ao partirem, nem roupas apropriadas para um inverno rigoroso.
A 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, estendeu suas tropas ao longo de 70 km, vigiando todos os pontos por onde os alemães tentassem passar rumo ao Norte da Itália.
Os Combatentes brasileiros improvisaram um campo cercado, para abrigar, como podiam os 14.779 alemães e italianos, feitos prisioneiros, após a rendição. Em número maior do que os pracinhas brasileiros.
Dizia Celestino: “os alemães esperavam para serem transportados por nós, lhes dávamos todo o nosso cigarro, o nosso chocolate e não os maltratávamos”.
   Recordava com emoção, os olhos enchiam de lágrimas quando relatava aos filhos que, em 19 de julho de 1944, presidida pelo General Mascarenhas de Morais, Comandante em Chefe da FEB, foi hasteada com indizível patriotismo a Bandeira do Brasil. O Pavilhão Nacional tremulou em terras da Europa, pela primeira vez em nossa história. O Verde e o Amarelo, riquezas nacionais, contrastaram com a destruição em solo italiano.
Aos Ex-combatentes, no retorno ao país, foram impostas várias restrições. Os veteranos não militares, que deram baixa, também foram proibidos de utilizar em público condecorações ou peças do vestuário expedicionário, enquanto os veteranos militares, profissionais de carreira, foram transferidos para regiões de fronteira ou distantes dos grandes centros.
O Brasil, com medo e com a falta de civilidade e patriotismo, não permitiu que os soldados se organizassem.
            Do Rio de Janeiro foram mais do que depressa despachados de trem para os seus Estados de origem. Não receberam nenhum acompanhamento médico, nem psicológico.
           Dívida que o Brasil ainda não resgatou com as famílias dos Ex-combatentes, pois eles já partiram. Elas entregaram moços cheios de vida e saúde e receberam muitos mutilados no corpo e todos eles, na alma. Celestino Fornari, trazia uma marca de guerra na sobrancelha direita, provocada por um estilhaço de granada alemã, na destruição de uma ponte.
A Pátria lhe deve para sempre, o dissabor de ter partido, sem saber que a sua família estaria amparada com sua aposentadoria Militar.
Honrou o nome de brasileiro, deixou exemplo de nobreza, dignidade aos filhos, netos, bisnetos.
Muito obrigado, Grande Homem.

 

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos - Edição 2016" - Setembro de 2016