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Maria José Zanini Tauil
Rio de Janeiro / RJ

 

Fantástico encontro de amor

 

Não basta uma simples interrupção para fazer o amor acabar. Deixou para trás futuro promissor, progresso financeiro e até mesmo a mais bela família. Foi uma felicidade efêmera, que ainda ensaiava o brilho maior, aparo de arestas, tornar-se perfeita. Caminhos traçados, depois adiados e, por fim, riscados, pela impossibilidade de concretização. Ambos julgavam o maior amor do mundo.
Numa tarde cinzenta, um quarto todo decorado de branco. Um copo de leite parecia ter sido derramado sobre o colchão: o deleite
carnal. Eram cavalo e potranca a cavalgar, um  casal de pássaros no mais alto voo, entrelaçando pernas, beijos e desejos.
Na parede, um quadro de Van Gohg parece pintar ventos sobre aqueles corpos, saudosos e nus. Um vento forte, como açoite sobre os dois abraçados, sedentos, suados.  Agitava cortinas... dava arrepios.
Aos poucos, a ventania faz-se brisa, corpos cansados, dedos entrelaçados, semi escuridão.
Lá fora, os pássaros ainda cantarolam as últimas brejeirices. Ela levanta sozinha, caneta em riste e passa a descrever tudo o que aconteceu ali, de forma leve, como notas de violino jamais dedilhado. Sempre documentava aquelas pianíssimas tardes, no papel e na memória. “não há espasmos mais doces do que esses que me retribuem amor; ele canta os cantos dos meus sentidos, segreda no meu ouvido um dicionário de palavras impossíveis de esquecer...mas deixa para dizer sempre o melhor, da próxima vez...e eu passo a ansiar por ela...sempre!”
Ainda sozinha, segue até a janela aberta, cabelos alvoroçados pelo vento leve, que acalma sua alma e faz o coração voltar a bater no compasso certo. Olha para o céu escurecendo e vê uma pequena nave, singrando as nuvens ainda visíveis. Uma das mãos a acenar, e com a outra,  beijos jogados no ar.
 Ele volta ao seu habitat natural, uma das muitas moradas prometidas por Jesus, na casa do Pai. Foi embora um dia; não queria, mas não se luta contra os desígnios divinos. Só que lhe foi concedido voltar sempre. Era  preciso matar a saudade da mulher, que é sua além da vida, saciar desejos.
E fica no ar, apenas a promessa de volta, na próxima  tarde cinzenta.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos - Edição 2016" - Setembro de 2016