Helio Sena
Massapê / CE

 

 

Pamonhas

         
Naquela manhã, despertou ouvindo um barulho estranho. Consultou o celular na mesinha: 6:13. Apurou os ouvidos. O tal barulho parecia vir lá de fora, da rua. Que diabo poderia ser?
Ficou em alerta. Passos... Seriam passos? Mas de quem, meu Deus? Quem, em sã consciência, ousaria fazer isso, em tempos de pandemia, o vírus à espreita, terrível? Talvez fosse um sonho. Era isso mesmo. Um sonho.
Mas não, o barulho era real, e, de fato, vinha da rua. Que poderia ser? Um animal? Um mendigo? Um cano estourado?
Pensou em levantar-se e ir lá ver; mas estava fazendo um frio de lascar, e, além disso, vira o noticiário até de madrugada, estava caindo de sono.
E não dizem que a curiosidade matou o gato? Pois bem, isso era verdade... Então cobriu-se dos pés à cabeça e tratou de voltar a dormir.
Foi aí que ouviu a coisa mais maluca, mais bizarra, mais absurdamente assustadora, desde que aquele caos todo havia se propagado:
– Olha a pamonha, minha gente! É baratinha, apenas cinquenta reais... A quarentena te deixou com saudades dessas delícias? Então se aproxime! Agora é a hora! Vamos aproveitar! Pamonhas! Somente cinquenta reais...

 




Conto publicado no livro"Contos de um tempo sem fim" - Edição Especial - Setembro de 2020

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