Ruandro Knapik
Quatro Barras / PR

 

 

Tentativa do erro sabido

 

           

De zero a dez, cinco. Sem pontuacao. Nao a adequada. Sem acentuacao. Nao tenho. Quero. Mas nao preciso. Um dia sera assim. Talvez hoje, pensando bem nao. Falhei, falharei. Dias dificeis. Dias legais. Dias memoraveis nao existem. Alias, existem. Tempo voa, as coisas mudam. Coisas nao mudam. Coisas que coisas. Que coisas. A dor negra e preta. As duas cores sim. A dor. E um amago, amargo, soco duro. Chacoalhar tudo. Viviane nao sabia que era tao querida, era desprovida de senso. Sorte. Senso de ser querida. Uma tristeza. A partida de. E de. Professora vania avisou. O duelo e grande. a noite e escura. O dia tambem. Ja nao falo mais de flores. Ja nao falo mais do mar. Nao lembro dele. Tratores e carteiras. E galinhas. Se para voce e. Se para voce foi. Se para voce sera. Eu quero o teu despespero e nao descansarei. A dor ainda persiste, um acalanto. Uma distracao e um. Sorriso. Comida e cafe. Todo dia. A mesma mentira, sempre. Ilusao que alimenta alguma utopia alheia. Viver e unico. Mas o coletivo exige, podre. A. Marta saiu de casa, independencia. Ariane. Rochele. Betina. Sim, Betina. Ela saiu porque quis aos 14. Essa idade sem cerebro. Droga. Matou. E mato. Hipocrisia, a historia dos tres segundos. E verdade, uma distante verdade. Marta saiu de casa atras de seus sonhos, mas que nao eram dela. Fruto do todo. Delegacia. Roupinhas. O que incomoda e ver a janela. O vento na janela, porra. Isso e. Nao fechava a cortina, queria ver a janela e vento batendo na janela. Ilusao. Quisera. Tres mil. Nem mais, nem menos. Marta chegou. Marta quis morrer. E o calor e artificial. E a comida e artificial. E o frio e. Hospital, vai morrer.
Outra cida. Outra cidade. Outro rumo. Valerie. Saudades, portugues. Saudades de los angeles. Sonhos na pele. Na flor da. Pesadelo. Marta conseguiu passar. Ela tinha o que precisava. Ela tinha o dinheiro. Ela tinha o papel colorido impresso. Ela tinha um lugar. Ela nao tinha o que. Ela nao tinha dignidade. A trouxa. Arvores seca, de um dia florido e verde. Avisado foi, acreditado que nao. Nao abra seu celular, nao veja. Agora se. Foi. Hora de sentir nada. Hora de ver e so. Piaf nunca esteve. E o talento ficou. Nao ha espaco. Alias, nao ha mesmo. Um rim. Uma cama. Em sete. E chuva. E frio. Talvez neve. Nao queira, nem tente.
Tudo. Novo. Novo nao. E nada. Primeiro dia de um primeiro passo. Bar. Casa. Essa noite. Nos somos jovens. Nos nao temos filhos. Nos nao temos amarras. Olhos diferentes, distantes. Fechados. Abertos. Escuros e claros. O mundo que pega fogo. O mundo que brilha. Eu nao. Posso arriscar, porque se. Eu nao quero, ninguem quer. Nao ha espaco, alias nao ha mesmo. A podridao da elite podre. Nos somos jovens. Nao adianta. Eu quero teu surto, e nao descansarei. Me leva para casa. Que casa. Para aquela cama em sete de um rim. Isso e felicidade, hora de estampar e prestar contas com o coletivo podre da elite podre. Eu consigo ouvir o coro. Eu consigo sentir o sentimento no ar e ver o que ninguem. Ver. Respiro o ar fetido compartilhado. Golpe isso. Palavra de nao. De nunca. Melhor, deixe. Meu rim.
Estados Unidos da America. Nao. Europa, velha. Porque mesmo. Desespero. Marta passou quinzena. Passou. Nao, talvez sobreviveu. A musica comecou a incomodar. A comida comecou a incomodar. A alegria dos outros comecou a. Incomodar a ela mesma com ela mesma. Seus pensamentos punitivos. Nao merece. Desvirtue-se hoje. Tao mais facil. 28 anos. Marta. 18 anos. 32 anos, Marta. 33 anos. Meia vida. Dores que vem, naquele rim. Que doenca. O que e doenca. E como se sabe disso, logico que nao. Pilula do dia seguinte, camisinha e pilula anticoncepcional. Onibus, trafego parado. E dor. E la nao, la. Rainha. Octeto. Eu ja tem preguica de nao conseguir pensar. Marta nao eu. Nao eu, nunca eu.

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017