Carlo Montanari
Passos / MG

O animal que ri

 

           

    O animal que ri não é a hiena, mas o “homo sapiens”, que de tão inteligente até inventa piadas e as...
    - Peraí, piadas? Pensei que o assunto fosse sério. - Argumenta alguém da roda de amigos.
    Continuou o narrador: - As anedotas, nascendo como o próprio homem, o animal que ri, como ia dizendo, deixaram de ser apenas uma demonstração de boa “cuca” do dito homo sapiens para se tornar uma forma de vingança sendo utilizada para menosprezar pessoas. Os portugueses, por exemplo; vocês sabiam que eles fazem piadas sobre nós brasileiros? Verdade, somos motivo de risos desses irmãos descendentes do grande Camões, inteligentes e muito cultos, ao contrário do que tentamos fazer com eles nas piadas...
    - Sabe aquela do português que foi condenado à câmara de gás? - Interrompeu outro integrante do grupo de contadores de piadas sem graça.
    - Sabem?  (Sempre começam assim quando vão contar alguma), sabem?
    - Então, colocaram o condenado em uma chaminé de uns dez metros de altura e soltaram um botijão de gás lá de cima.... kkkk
    - Melhor voltar com o narrador,  porque esta “é veia”. Continua aí, narrador.
    - Como ia dizendo, os portugueses têm berço, pena que nossa herança deles ficou meio que misturada, mas isso é outra história que contarei algum dia caso consiga escrever mais um livro de “causos”. Sabiam que os motivos  mais frequentes das anedotas nos anos 70 eram a morte, o pânico, a violência, a dor e o crime, não falando em papagaios, padres, não é? Eram, mas hoje em dia está em moda satirizar os políticos corruptos, os mensalões, a tal de “lava-jato” e por falar nisso, o filho do “home do PT” já conseguiu provar onde arrumou “grana” para comprar aquele jato?
    - Hoje, quem lida com tratar animais ganha muito dinheiro kkk - Disse João da Rosa.
    - Gente, mulher também é motivo de piadas, principalmente as louras.
    Interrompido novamente, agora por “Zé das Ditas”, que disse: Aquela da Eva e Adão no paraíso é chiqueteza. Adão demorou a chegar, sozinhos que eram aqui no princípio do mundo, passeava distraidamente pelas matas ainda virgens, chega em casa e Eva o chama e diz:
    - Venha cá logo, deixa em contar as suas costelas.
    Houve um silêncio no paraíso, digo no bar!
    - Não entenderam, vou explicar...
    - Nããooo, dizem em coro os demais. Já basta!!!!
    Para tentar remediar, Zé da Dica conta outra, mais ou menos assim:
    - Tem aquela do espanhol que desembarcou em um país e perguntou se havia Governo ali. Havia sim. Imediatamente disse: “Entonces, soy contra.”
    - Ai ai ai, mais velha que Fidel Castro.
     -Vamos continuar dissertando sobre o assunto em questão, piadas, diz o narrador. Como eu ia dizendo, hoje as piadas são mais eletrônicas, com tecnologia.
     - Como assim, pergunta um da turma, bem lá num cantinho... e vira o copo de “cerva”.
    - Muitas anedotas neste século 21 estão abordando o comportamento nas redes sociais, os exageros sexuais na TV, etc e tal... Existe até uma famosa, do início dos anos 2000: Um cidadão pergunta ao computador onde está o seu pai. Seu pai, responde a máquina com um tom de riso: Está aqui em São Paulo.
    - Besteira, meu pai morreu há anos.
    A máquina insiste: O marido da tua mãe morreu lá, mas o seu pai está mesmo em São Paulo.
    Só um riu meio que despistando: era o pai!!!
    Continua com a narração e finalizando: Assim tudo faz crer que até mesmo agora com toda esta modernidade, o ser humano, com políticos corruptos acabando ou não, mulheres louras pintando o cabelo cor “pink” ou não, o ser humano, O ANIMAL QUE RI, continuará alvo de shows “Stand UP”,  porque material  não falta e faz com que a profissão que mais cresce neste país, e não tem desemprego,  é a de humorista.
    - Por que tem de ser assim? - Pergunta alguém do grupo de pessoas alegres.
    Alguém levanta a mão querendo responder pelo narrador.
    - Opa, cuidado aí na sua resposta, pois dela poderá nascer outra anedota.
   Riso geral!

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Verão"- Edição Especial - Fevereiro de 2017