Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ
COVID -19 (Reflexões)
Quarentena? O mundo inteiro? Não; o mundo inteiro não. Somente os humanos estão de quarentena. A natureza na realidade está em festa. Os animais recuperam novamente os espaços que lhes foram tomados, as águas tão poluídas se regeneram, assim como as espécies que as habitam. O céu está mais azul, sem a fumaça das fábricas e das grandes indústrias que o sufocavam. A vegetação está mais exuberante. Há um silêncio quase ensurdecedor nas rodovias e nas grandes capitais. O silêncio desorienta as pessoas que não estão acostumadas com ele, por isso elas se imaginam ensurdecidas.
Ora, quem faz os mais estapafúrdios estragos nesta majestosa criação divina está restrito agora a seus pequenos espaços.
Meditando? Rezando? Escrevendo? Arrumando armários? Ensinando e educando seus filhos? Fazendo “lives”? Sei lá mais o quê?
Talvez imaginando “como será o amanhã?”
Alguns se esforçando por muitos, é verdade. Parabéns para eles! Que os anjos os protejam!
Não sei explicar o porquê, mas me veio à lembrança uma história do folclore europeu: “O Flautista de Hammelin”. Tal flautista expulsa com a sua música todos os ratos e ratazanas que infestaram aquela cidade, após ter feito um acordo com os seus responsáveis. Só que depois do afastamento dos indesejáveis roedores, os governantes de Hammelin não cumpriram a promessa e ainda escarneceram do flautista. Então aconteceu a vingança: o músico, com a sua flauta mágica, tocou um hino que hipnotizou todas as crianças daquela pequena cidade e as levou para fora dos seus limites e as suas famílias nunca mais souberam delas. Restaram apenas três crianças: uma que não conseguiu enxergar o caminho; outra que não escutou as notas musicais e uma terceira que estava impossibilitada de andar.
As ruas de Hammelin nunca mais se alegraram. A tristeza tomou conta para sempre daquela localidade.
Os adultos procuraram por seus pequeninos em vão. E o flautista também desapareceu. Um grande e dramático mistério.
Será que esta história surgiu de uma epidemia? Ratos lembram-nos a peste bubônica.
Será que nós também estamos quebrando promessas ao nosso Criador? Não estamos dando a atenção e os cuidados devidos à nossa “casa comum”, à Mãe Terra?
É fato que estamos em luta com um inimigo invisível. Não temos agora um flautista mágico, mas vemos desaparecer milhares e milhares de seres humanos e com eles a história e a tradição de muitos povos. Sabemos que o encontro de gerações é necessário para sacramentar experiências e conduzi-las, através das reflexões, aos acertos. O antigo e o novo se complementam.
Para Moisés escutar Deus foi preciso o silêncio da montanha e do deserto. Aquietemo-nos.