Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

 

A moça que casou

       

Moça bonita, filha de professor de origem alemã. Cabelos loiros. Muito amável, prestativa.
Trabalha em uma escola. Assim, sempre cercada de gente. Convivendo com crianças, pois é um educandário de 1ª. a 4ª. Série.
Faz trabalho burocrático, é secretária, muito organizada.
Ela tímida, envergonhada querendo muito ter um namorado. Mas e a coragem. Talvez a ancestralidade tenha contribuído, pois seus pais são muito amáveis.
Porém como se achegar até um moço. Ou então deixar um jovem se aproximar.
A timidez era muito grande. Ela quase não falava com ninguém. 
Parecia uma avezinha tentando passar despercebida. Terminar logo o seu trabalho e voltar para casa.
A menina anjo - vamos chamá-la assim - também presta serviços religiosos em uma Paróquia da cidade onde reside.
Um tanto contraditória para os tempos atuais a jovem sonhava com um moço bonito. Queria casar-se e ter um filho.
Faltava, porém, coragem. Com tanto homem procurando uma companheira e, ela uma moça bonita, profissional eficiente, ansiando por um admirador, sem que houvesse um encontro bendito entre ela e alguém do sexo oposto.
O tempo foi passando e, a jovenzinha pela idade, já uma Senhora. Vivia no seu serviço, na sua casa cercada por inúmeros gatos.
Uma forma de passar o tempo e sentir-se amada. 
Todos os muitos gatos, chamados pelo nome.
Arredia, ia ela levando a vida, ou melhor, deixando que a vida a levasse.
Como tudo na vida, há sempre um dia especial.
Na Igreja foi feita uma apresentação. E, um moço garboso que prestava serviço, era funcionário da Paróquia, na encenação, fez o papel de Santo Antônio.
Esse, moço vivia sozinho, não tinha mais os pais vivos, fora criado pela madrinha. Uma história comovente, ora tendo uma casa para morar outros dias sem ninguém.
Estava ele, depois da peça teatral, encostado em uma porta e ela tirando coragem não se sabe de onde, com os olhos baixos, balbuciou:
- Queria um Santo Antônio desses só para mim. 
Foi o quebra gelo. O namoro começou. Tanto ele como ela queriam alguém para conviverem.
Assim mesmo, ele pediu opinião para algumas pessoas experientes, pois tinha outra namorada no caminho.
A resposta que recebeu:
- Se você procura uma companheira para compartilhar a tua vida, para viver bem, fazer um capital, ter um futuro promissor, escolha a Moça loira.
Se você quer alguém para festas, muitos bailes, escolha a outra. Será uma vida de muitas alegrias. Porém essas são passageiras.
Ouvindo o conselho ele escolheu a Menina Anjo, para dividir o seu viver.
Foi um namoro curto. Pois muito tempo havia passado, e muito depressa. E, o tempo é implacável. Amanhece e logo anoitece. É muito rápido o passar dos dias. Às vezes não se tem tempo a perder.
Assim, um namoro discreto, sem muitos alardes. Na Igreja onde ela é Ministra da Eucaristia e, ele funcionário, fazia os serviços necessários, inclusive o de cuidar do som durante as celebrações. Muitos dos fiéis nem sabiam que eram namorados.
Casamento marcado. Um dilema. O primeiro na vida do casal. Qual sacerdote faria a celebração. 
Um recém-chegado na Paróquia, mas era na realidade Pároco e ao mesmo tempo o Chefe, o Patrão. 
Havia ainda um que havia pouco deixado a comunidade, era o amigo e confidente. No dia da Celebração matrimonial estavam os dois.
O próprio padre resolveu a situação.
- Deixe ele, o padre amigo, celebrar o casamento de vocês, que eu preciso solenizar em outra Capela.
Parece que os Anjos muitas vezes dizem sim a algumas situações.
Os dois sacerdotes, haviam sido convidados e também o padre mais idoso que mora na Casa Paroquial. 
Uma situação, talvez a primeira da vida de quase casados, que enfrentaram juntos.
A cerimônia foi linda. Foi festiva. Foi a realização de um sonho.
A noiva, parecia ter só 18 anos. Irradiava felicidade. Como toda a noiva estava muito bonita. Com os cabelos encaracolados parecia uma princesa dos contos de fada.
A festa foi aconchegante. A música, a dança tudo dentro do que se espera em um casamento. Ao jantar digno de um banquete dos deuses. Alegria e bem-estar.
Uma das madrinhas de casamento no religioso perdeu a mãe justamente na véspera da tão sonhada união.
- E, agora o que fazer?
Simples, quando as coisas são para acontecer. Tudo se ajeita. Foi testemunha o Padrinho com a filha adolescente.
Mas, à noite ela esteve no jantar, pois a vida continua. Quem cuida dos seus queridos enquanto estão vivos, a morte é o detalhe pelo qual todos nós passaremos mais dias ou menos dias.
Essa madrinha querida foi que proporcionou o lugar do encontro entre os convidados e o casal de nubentes. Uma associação a alguns quilômetros da cidade. Um lugar aconchegante, bonito do tamanho ideal para o número de convidados.
No sábado marcado para o casamento choveu torrencialmente até na hora marcada. Como dizem os antigos é sinal que vai vingar, haverá brotação. Não se sabia se a noiva era a mais feliz ou os pais dela.
- A minha filha querida está casando. Repetiu a mãe várias vezes. 
Talvez achassem que pela forma retraída que a ela vivia não casaria nunca. Não convivia com gente jovem. Não frequentava lugares públicos. Pelos modos de vida parecia uma jovem de cem anos atrás. Vivia para o trabalho e para os seus gatos.
 Deviam eles, os pais, saberem do desejo da caçula da família, que era a de casar e ter um filho.
Moça de família tradicional com princípios Cristãos bem estabelecidos, tudo deve ser dentro do que a sociedade estabelece como certo.
Como o namoro foi rápido. E, o amor foi um encontro inesperado, ela tinha uma viagem Internacional programada. Com 20 dias de casada embarcou para o Sonho de conhecer os Caminhos de Maria de quem é muito devota.   
Viajou sozinha, pois as condições econômicas impunham alguma ou muitas restrições. Podemos dizer que a Lua de Mel foi um na América, no Brasil e, ela na Europa, em Portugal e França.
Seguem a vida de recém-casados, normalmente. Como todos os casais, ajustando-se um ao outro. Moram com os pais dela. Numa chácara não distante da cidade, onde ele agora trabalha. 
Um amor, no outono da vida que trouxe carinho a um coração solitário. Ainda a um casal de pais que se preocupavam com o envelhecimento. Com quem vamos deixar a nossa filha querida, a nossa menina Anjo.  
A moça bonita se tornou feliz e agora participativa, convive mais em sociedade. Até comunicativa se tornou.
Para coroar essa história de fada só é preciso agora, que os céus digam Amém e um filho venha abençoar a união amorosa da moça que encontrou o Príncipe Encantado e casou-se no outono da Vida...

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Contos de Outono" - Edição 2020- Julho de 2020