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Maria Aparecida Lopes Cirelli
Ribeirão Claro / PR

 

Um caso para se pensar


Numa pacata cidade do interior do Paraná, vivia D. Maria, uma senhora, já de uma certa idade, com Maria do Socorro, sua filha única, e seu marido o Sr. Gastão.
A filha da velha senhora, moça já meio passada, quase chegando aos quarenta, namorava já há um bom tempo, o escrevente do único cartório da cidade. Geraldinho, como Dona Maria costumava chamá-lo carinhosamente, era de casa, gente boa, era tratado como se fosse seu filho e, muitas vezes, chegava mesmo esquecer que não o era.
Cidade pequena, povo simples e sem nenhuma malícia, não eram poucas as pessoas que caíam no golpe do suposto sequestro relâmpago, que na verdade, era arquitetado por presidiários, que dentro do próprio presídio, e por não terem nada com o que se preocupar, planejavam golpes capazes de dar nó até em bica d’agua.
Um dia, enquanto preparava o prato preferido de Geraldinho que chegaria de viagem naquela tarde, o telefone toca, e lá vai tia Mariazinha, como era chamada carinhosamente pelos amigos mais próximos, e atende com a maior boa vontade e com o carinho que lhe era peculiar.
_ Alô! Com quem eu falo?
 Do outro lado da linha, quebrando o silêncio, ouvia-se a voz de um homem gritando desesperado por socorro.
_ Mãe! Mãe me ajude! Eles me pegaram, eles vão me matar!  Faça tudo que eles mandarem.
A pobre senhora não pensou duas vezes, e, em um tom acolhedor, responde prontamente:
_  Calma, filho, tenha calma! Pode ficar tranquilo que eu não vou deixar ninguém o machucar.
Nisto, o suposto sequestrador pega o telefone, e sem mesmo dizer o que queria, ela começa a gritar:
_  Seu safado, solte ele!  Ele não lhe fez nenhum mal, é um rapaz bom, trabalhador. Quem você pensa que é? Não vou deixar que faça nada com ele.
_  Solto sim, coroa, mas antes preciso de uma garantia, vou te passar o número e você deposita nessa conta dez mil pratas e eu solto o panaca. E tem mais, vovó, faça isso de bico calado, e se der uma de esperta e der com a língua nos dentes ou se enfiar a polícia no meio, eu faço seu filhinho virar presunto.
_  Dez mil?  Mas esse valor eu levo muito mais de um ano para ganhar com a minha aposentadoria de salário mínimo...
Fez-se silêncio, e o bandido, muito irritado, grita impaciente:
_ E daí, vovó? Seu tempo tá se acabando, dá seus pulo e larga de lorota, pois aqui ninguém tá interessado se tu tem grana ou não. Vai pagar ou não vai? Apago ou não apago o imbecil?
Tia Mariazinha recobra o fôlego e responde com a voz de quem acabara de acordar.
_  Rapaz, acabei de me lembrar, olhe que cabeça a minha! Eu não tenho filho. Vá trabalhar se quiser ganhar dinheiro.
 Desliga o telefone e o deixa falando sozinho.

   
Publicado no livro "Contos de Outono" - Edição Especial - Junho de 2015