Josete Maria Vichineski
Ponta Grossa / PR

 

O cinamono desolado

 

Quando eu tinha 5 anos, aproximadamente, meus pais compraram um terreno grande, para ser formada uma chacrinha, ao gosto deles.
 Durante dois anos a família toda:  meus pais, eu, minha irmã mais velha e meu irmão mais novo, íamos preparar o terreno, para futuras plantações de árvores frutíferas e hortaliças. Isto acontecia sempre aos domingos, após o trabalho de meus pais na cidade, assim como, os meus estudos e de minha irmã, pois meu irmão era bem pequeno e não tinha idade escolar. Eu lembro que vários fornecedores de árvores frutíferas levavam pequenas árvores para plantarmos no terreno. Nós esperávamos, com ansiedade, a ida ao terreno. Íamos de ônibus, com uma alegria imensa, pois além de ajudarmos nosso pais em serviços leves, sempre aproveitávamos para brincar à vontade.
O pomar ia se formando, pouco a pouco. Junto com ele, os pedreiros iam construindo uma grande casa de material, que chamava a atenção, pois o local, na época, era muito distante da cidade e não havia ponto de ônibus perto. Ou seja, não tinha nada perto, nem armazéns, nem padarias, nem farmácias, nem escolas... Tudo era longe.  Mas para nós, era o paraíso na terra.
O tempo passou e nos mudamos para o local. Lembro como se fosse hoje, quando nos sentamos à mesa da cozinha para tomarmos o nosso primeiro café da tarde. O sol batia muito forte e não tínhamos uma varanda para vedar o sol. Minha mãe exclamou:
- Seria bom se tivesse uma árvore bem aqui na frente da cozinha, para amenizar o sol, trazendo sombra e frescor.
Todos nós concordamos com minha mãe. Meu pai, na sequência dos dias, consegui umas sementes de cinamomo. Esta árvore cresce muito rápido, é frondosa e dá uma grande sombra.  As sementes foram plantados por todas a chacrinha e depois de pouco tempo tínhamos grandes árvores.
Entre o final de agosto e meados de setembro, como que para brindar a primavera, nossos cinamomos davam flores da cor lilás, em cachos. O perfume era adorável. Em pouquíssimo tempo nossa chacrinha ficou cheia de árvores perfumadas.  Tudo graças aos cinamomos.
Eu gostava muito de sentar num galho baixinho, mas forte, do cinamomo bem em frente à cozinha, conforme a nossa vontade, para fornecer sombra. As minhas notas boas na escola vinham do meu estudo, sentada à sombra do cinamomo, que na primavera era um perfume só. Era como se o meu estudo fosse perfumado pelo cinamomo.
Mas nem tudo são flores. No outono, eu ficava muito triste, pois o meu, o nosso cinamomo idealizado para fornecer sombra, perdia suas folhas. Ele me parecia triste, deprimente, desolado...
Mas os cinamomos são multifuncionais. Dão sombra, flores, adubo, madeira para caixotes, lenha para o nosso fogão a lenha... Já mocinhas, eu e minha irmã recolhíamos as folhas caídas no chão para adubar a terra.
Mas eu nunca esqueço da minha tristeza na atividade de recolher as folhas do cinamomo, no outono.  Principalmente do nosso cinamomo, bem em frente à cozinha, onde tomamos o nosso primeiro café da tarde, em nossa idealizada chacrinha. Para mim, ele parecia  desolado.

 

 
Conto publicado no livro "Contos de Outono" - Maio de 2018