Jackson da Mata
Manaus / AM
A dívida do pai morto
O regato percorria pelos rios da Amazônia
nas madrugadas; era um trabalho árduo o de Mundico, que
junto com o filho Leonor se ocupava do comércio da borracha
em sua humilde canoa.
Leonor fazia amizade com os homens do campo, caixeiros, comboieiros,
mateiros e os próprios seringueiros que respeitavam cordialmente
o Mundico.
Os regatos trabalhavam clandestinamente, geralmente eram perseguidos
por aviadores e seringalistas.
Mundico havia perdido a mulher nos rios da Amazônia, com
o ataque de um jacaré enquanto percorriam os rios há
poucos meses antes do filho completar seus nove anos.
O regato acumulava dívidas no comércio e andava
receoso de represálias.
Como filho das matas, conhecia os perigos da região. Os
aspectos imensuráveis da fauna e da flora Amazônica
já não o espantavam. Seu maior temor era o bicho
homem!
Numa noite fria, em meio às águas do rio negro,
enquanto transportavam em sua canoa algumas mercadorias para Manaus,
ouve-se um estampido seguido do chacoalhar das águas em
meio à escuridão da noite. Mundico havia sido alvejado
por um aviador que requeria o seu devido pagamento.
Leonor é levado cativo para uma casa aviadora e posteriormente
negociado como mercadoria com um seringalista.
Havia se passado mais de trinta anos, quando conheci Leonor que
me relatou sua história. Trabalhou por muitos anos sem
salário, desde criança, para que pudesse sanar a
dívida do pai morto.
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