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Luiz Francisco Silva
Pinhais / PR

 

Outros caminhos

No chão ela suava, gemia, pedia por socorro, mas ninguém ouvia. A estrada era longe. Não havia ninguém para socorrê-la. O marido estava trabalhando em outras terras. Ela estava de fato sozinha como assim já havia previsto. Reunindo todas as forças procurou manter-se calma. O desespero nada resolveria. Aparecer alguém ali, só mesmo por milagre, no qual ela depositava toda sua esperança.
As contrações tornavam-se mais intensas a cada momento. Certa de que teria seu filho ali mesmo, sozinha, entregou-se nas mãos de Deus e deixou que a vontade Dele fosse feita.
Do outro lado do morro sua mãe se preparava para estar com ela quando precisasse, mesmo que nunca tivesse aceitado o casamento da filha com aquele sujeito que nunca lhe inspirou confiança. Depois de fechar a mala, sentou-se na beira da cama e pensou se o momento não havia chegado. Talvez fosse hora de deixar sua casa e correr para a casa de sua filha, pois estas coisas podem acontecer muito antes do que se espera. Tomada pela intuição avisou seu marido que estava indo e pediu-lhe, denunciando sua angústia:
– Por favor, atrela um cavalo manso, mas um que possa me levar o quanto antes à casa da menina.
Em questão de segundos o cavalo estava pronto.
– Ele é manso, mas tome cuidado. Às vezes cisma de refugar.
Ajudada pelo marido montou o cavalo e pôs-se a galopar. O esposo, enciumado, recolheu as vacas, jogou umas espigas de milho no chiqueiro e seguiu-a em disparada.
Antes mesmo de descer do cavalo ele ouviu um chorinho de criança. Entusiasmado, saltou do animal e correu para dentro da casa. O quarto estava meio escuro. Tomou então de uma vela e aproximou-se da filha. Beijou-lhe a testa e finalmente pode sorrir ao saber que além de ser um menino, levaria seu nome, como demonstração de afeto por parte da filha.
O tempo passou. O menino já estava andando pelo quintal e se lambuzando nas poças de barro. A mãe quis ralhar, mas a avó interferiu:
– Criança precisa se lambuzar mesmo, minha filha. E assim crescerá forte e saudável, como você.
Depois de meses sem dar sinal de vida, o marido apareceu. Mas, era tarde. A casa estava vazia, conforme ela havia prometido.
Se tivesse forças iria atrás da mulher e do rebento, mas sabia ele muito bem o quanto era fraco diante de seu desejo de liberdade. E então, afundando o chapéu na cabeça, apertou a espora contra o animal e saiu, sem rumo, galopando pela estrada afora.


   
Publicado no livro "Seleção de Contos Premiados" - Edição Especial - Junho de 2014