|
Antologias:
atendimento@camarabrasileira.com Produção de livros: cbje@globo.com |
Contato
por telefone Antologias: (21) 3393 2163 |
Produção
de livros: (21) 3547 2163 (21) 3186 7547 |
Rozelene
Furtado de Lima
A mulher de pedra Em um reino longínquo, nasceu uma linda princesa que foi batizada com o nome de Theresa. O reino localizava-se num vale ladeado por florestas, nascentes e rios caudalosos de águas cristalinas, cheios de uma grande variedade de peixes. Além de toda essa beleza, o que mais impressionava era a flora, espécies de rara beleza, caminhos e caminhos ornamentados e perfumados, onde a natureza exibia orgulhosa flores de várias cores, salpicadas por borboletas e podia-se dançar ao som de um coral de pássaros. Theresa cresceu fazendo parte desse espetáculo belíssimo. Cavalgava em seu cavalo negro, acariciada pelo vento que não cansava de sussurrar em seus ouvidos sons de encantamento. Certo dia chegou ao reino uma caravana que vinha de muito longe e pediu licença para descansar e passar a noite. O rei consentiu. Ao final da tarde, a princesa, que não sabia o que estava acontecendo, parou à beira do rio, desceu do cavalo e foi banhar-se, quando, de repente, avistou um jovem que já estava nadando no mesmo local. Theresa saiu imediatamente das águas, vestindo-se envergonhada, assustada e amedrontada. O jovem também se vestiu rapidamente e aproximando-se da belíssima princesa, explicou o porquê de estar ali. Ele fazia parte da caravana que estava hospedada no castelo. Passado o primeiro momento de constrangimento e medo, conversaram amigavelmente. Chegaram ao castelo juntos. O rei e a rainha não gostaram do que viram. A princesa estava prometida em casamento ao príncipe do reino vizinho e não deveria conversar com estranhos. Pela manhã, a caravana partiu. O jovem instalou-se nos pensamentos e no coração da princesinha e em nenhum dia ela deixou de pensar naquele jovem e na forma de como se conheceram. Voltava sempre àquelas águas e relembrava a cena daquele encontro preparado pelo destino. Chegou o dia do casamento da princesa Theresa. A cerimônia estava minuciosamente organizada. Havia um ritual cheio de detalhes, que fazia parte da história do reino. Os súditos trabalhavam incansavelmente noite e dia para que tudo ficasse pronto para o grande acontecimento. Uma semana de festividades e muitos convidados. A princesa ficava recolhida em seu quarto durante todos os festejos e só aparecia para a cerimônia do casamento, já vestida de noiva, conduzida por doze damas de honra. Nos dias de reclusão antes do casamento, a princesinha, que nem conhecia seu noivo, caiu em tristeza. Não queria comer e chorava sem mesmo saber por que as lágrimas rolavam pelo seu rosto. A angústia tomou conta de seu peito; tudo ao seu redor parecia falso, sem valor e sem vida. A rainha, percebendo a gravidade do estado da sua filha, mandou chamar o curandeiro da corte, famoso por curar doenças da alma. Depois de ver a princesinha e fazer suas orações e meditações, sentenciou: – A princesa precisa tomar um banho de rio e tudo ficará bem, ela voltará a sorrir. Quando Theresa foi comunicada do remédio receitado, pediu que fosse àquele lugar do rio, que só ela sabia o porquê. Chegando lá, pediu para que a deixassem sozinha e só voltassem quando ela chamasse. Chorando de saudade, nem percebeu que alguém aproximou-se e atirou uma quantidade enorme de pétalas coloridas de flores nas águas. Pensou que fizesse parte do ritual do casamento. As águas ficaram como se tivesse um arco-íris. Ela ficou tão maravilhada que foi acompanhando com o olhar o filete de flores. Deparou com o jovem viajante que, de pé, à margem do rio, admirava a beleza da princesa. Imediatamente, ela nadou pelo caminho de pétalas e chegou até ele. Abraçaram-se, fizeram juras de amor. Resolveram fugir e ficarem juntos para sempre. Montados no cavalo dele saíram galopando em direção à felicidade. Naquele reino, numa gruta, vivia uma bruxa má que não gostava de ver um grande amor. Ela correu a avisar ao rei que a princesinha tinha ido embora com o visitante. O rei mandou que pegassem o curandeiro e ordenou que o coitado fosse amarrado e queimado à entrada do reino, pois concluíra que ele foi o culpado de tudo ter acontecido. Na hora em que acenderam a fogueira, ouviu-se um trovão. O reino ficou paralisado para sempre e todos foram transformados em montanhas de pedras. Estão petrificados até hoje. São muitas as montanhas naquele reino que podem ser vistas e até fotografadas. Entre elas estão: – a Pedra do Sino – onde estava o sino que tocaria na hora em que a princesa dissesse o sim; – a Pedra do Elefante – era um elefante que levava o dote da princesa carregado de ouro e pedras preciosas; – a Pedra da Tartaruga que enquanto ela vivesse duraria a felicidade do casal; – a Pedra do Garrafão – o vinho que seria servido durante os festejos; – a Verruga do Frade – dizem que o frade que faria o casamento tinha uma grande verruga; – a Agulha do Diabo – que a bruxa usava para costurar os vestidos de festas e de noivas para que elas não conhecessem o amor; – a Serra dos Cavalos – todos os cavalos do reino estão aprisionados nessa serra por um deles ter conduzido o casal na fuga; – o Dedo de Deus – como símbolo da aprovação do amor impossível. A princesa Theresa foi transformada numa linda montanha – “A Mulher de Pedra”: conta-se que, nas noites escuras, vê-se um cavalo negro galopando em direção a essa montanha: nas noites de lua cheia um casal despido banha-se num rio próximo à mesma montanha e que na manhã seguinte pode ser visto nas águas do rio um caminho de pétalas de flores acompanhado de um arco-íris. O novo povoado que se formou entre essas montanhas batizou a cidade com o nome de Theresópolis, em homenagem à princesa Theresa.
|
Publicado
no livro "Seleção de Contos Premiados" - Edição
Especial - Junho de 2014 |
|