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Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

A mulher de pedra

Em um reino longínquo, nasceu uma linda princesa que foi batizada com o nome de Theresa. O reino localizava-se num vale ladeado por florestas, nascentes e rios caudalosos de águas cristalinas, cheios de uma grande variedade de peixes. Além de toda essa beleza, o que mais impressionava era a flora, espécies de rara beleza, caminhos e caminhos ornamen­tados e perfumados, onde a natureza exibia orgulhosa flores de várias cores, salpicadas por borboletas e podia-se dançar ao som de um coral de pássaros.

Theresa cresceu fazendo parte desse espetáculo belíssi­mo. Cavalgava em seu cavalo negro, acariciada pelo vento que não cansava de sussurrar em seus ouvidos sons de encanta­mento. Certo dia chegou ao reino uma caravana que vinha de muito longe e pediu licença para descansar e passar a noite. O rei consentiu. Ao final da tarde, a princesa, que não sabia o que estava acontecendo, parou à beira do rio, desceu do cavalo e foi banhar-se, quando, de repente, avistou um jovem que já estava nadando no mesmo local. Theresa saiu imediatamente das águas, vestindo-se envergonhada, assustada e amedrontada.

O jovem também se vestiu rapidamente e aproximan­do-se da belíssima princesa, explicou o porquê de estar ali. Ele fazia parte da caravana que estava hospedada no castelo. Passado o primeiro momento de constrangimento e medo, conversaram amigavelmente. Chegaram ao castelo juntos. O rei e a rainha não gostaram do que viram. A princesa estava prometida em casamento ao príncipe do reino vizinho e não deveria conversar com estranhos.

Pela manhã, a caravana partiu. O jovem instalou-se nos pensamentos e no coração da princesinha e em nenhum dia ela deixou de pensar naquele jovem e na forma de como se conheceram. Voltava sempre àquelas águas e relembrava a cena daquele encontro preparado pelo destino.

Chegou o dia do casamento da princesa Theresa. A ce­rimônia estava minuciosamente organizada. Havia um ritual cheio de detalhes, que fazia parte da história do reino. Os sú­ditos trabalhavam incansavelmente noite e dia para que tudo ficasse pronto para o grande acontecimento. Uma semana de festividades e muitos convidados. A princesa ficava recolhida em seu quarto durante todos os festejos e só aparecia para a cerimônia do casamento, já vestida de noiva, conduzida por doze damas de honra.

Nos dias de reclusão antes do casamento, a princesinha, que nem conhecia seu noivo, caiu em tristeza. Não queria comer e chorava sem mesmo saber por que as lágrimas rolavam pelo seu rosto. A angústia tomou conta de seu peito; tudo ao seu re­dor parecia falso, sem valor e sem vida. A rainha, percebendo a gravidade do estado da sua filha, mandou chamar o curandeiro da corte, famoso por curar doenças da alma. Depois de ver a princesinha e fazer suas orações e meditações, sentenciou:

– A princesa precisa tomar um banho de rio e tudo ficará bem, ela voltará a sorrir.

Quando Theresa foi comunicada do remédio receitado, pediu que fosse àquele lugar do rio, que só ela sabia o porquê. Chegando lá, pediu para que a deixassem sozinha e só voltas­sem quando ela chamasse. Chorando de saudade, nem perce­beu que alguém aproximou-se e atirou uma quantidade enor­me de pétalas coloridas de flores nas águas. Pensou que fizesse parte do ritual do casamento. As águas ficaram como se tivesse um arco-íris. Ela ficou tão maravilhada que foi acompanhando com o olhar o filete de flores. Deparou com o jovem viajante que, de pé, à margem do rio, admirava a beleza da princesa. Imediatamente, ela nadou pelo caminho de pétalas e chegou até ele. Abraçaram-se, fizeram juras de amor. Resolveram fugir e ficarem juntos para sempre. Montados no cavalo dele saíram galopando em direção à felicidade.

Naquele reino, numa gruta, vivia uma bruxa má que não gostava de ver um grande amor. Ela correu a avisar ao rei que a princesinha tinha ido embora com o visitante.

O rei mandou que pegassem o curandeiro e ordenou que o coitado fosse amarrado e queimado à entrada do reino, pois concluíra que ele foi o culpado de tudo ter acontecido.

Na hora em que acenderam a fogueira, ouviu-se um trovão. O reino ficou paralisado para sempre e todos foram transformados em montanhas de pedras. Estão petrificados até hoje.

São muitas as montanhas naquele reino que podem ser vistas e até fotografadas. Entre elas estão: – a Pedra do Sino – onde estava o sino que tocaria na hora em que a princesa dissesse o sim; – a Pedra do Elefante – era um elefante que levava o dote da princesa carregado de ouro e pedras precio­sas; – a Pedra da Tartaruga que enquanto ela vivesse duraria a felicidade do casal; – a Pedra do Garrafão – o vinho que seria servido durante os festejos; – a Verruga do Frade – dizem que o frade que faria o casamento tinha uma grande verruga; – a Agulha do Diabo – que a bruxa usava para costurar os ves­tidos de festas e de noivas para que elas não conhecessem o amor; – a Serra dos Cavalos – todos os cavalos do reino estão aprisionados nessa serra por um deles ter conduzido o casal na fuga; – o Dedo de Deus – como símbolo da aprovação do amor impossível.

A princesa Theresa foi transformada numa linda mon­tanha – “A Mulher de Pedra”: conta-se que, nas noites es­curas, vê-se um cavalo negro galopando em direção a essa montanha: nas noites de lua cheia um casal despido banha-se num rio próximo à mesma montanha e que na manhã seguin­te pode ser visto nas águas do rio um caminho de pétalas de flores acompanhado de um arco-íris.

O novo povoado que se formou entre essas montanhas batizou a cidade com o nome de Theresópolis, em homena­gem à princesa Theresa.


   
Publicado no livro "Seleção de Contos Premiados" - Edição Especial - Junho de 2014