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Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

  Fofa, a gata mourisca

 

Gata mourisca e de pelo grande, muito fofo, dona daquela residência, sempre servida com comida especial. Carinho nunca faltou. Caçar rato não era com ela; uma gata madame, é demais para ela essas pequenas coisas. Coisas milenares, de outros tempos, ultrapassados para quem se chamava Fofa.
Na primeira cria, a qual demorou bastante tempo, a senhora em especial só teve um rebento, por sinal muito bonito.
Como a mãe, foi ele criado com todo o mimo. Fez-se, um gato lindo. Não é de raça pura, mas tem parentesco com o gato siamês do vizinho de muro, com certeza o pai. Muitas vezes foram vistos, os dois, a gata mourisca e o gato com pedigree, namorando descaradamente pelo pátio da vivenda. Nem precisava ser em noite de lua cheia. 
O bichano, talvez pela sua descendência nobre, nunca mais deixou de mamar nas tetas da gatinha. Ela, grávida outra vez, ele mamando sempre. Quando deu cria a mais quatro filhotes, o leite era primeiro para o filho mais velho, o bem-amado. Depois mamavam os outros. Deitava e, rosnando, chamava.
- Miau! Miau!
Lá vem ele, correndo. Ela muito fogosa, levanta a pata para a bocona enorme conseguir abocanhar o leitinho delicioso.
Dá uma rosnadinha como quem diz:
 - Que bom que você é minha mãe! E, melhor ainda, gosta de mim, não me esqueceu.
Para servir melhor, ela chega a deitar de costas, para o bichano, um marmanjo, mamar comodamente. Coisas de mãe, mesmo sendo uma mãe-gata.
A família a qual a gata pertence ficou indignada com o comportamento (de certa forma para o raciocínio humano), de mãe desnaturada. Foi falado, tirado o gato, posto na coleira. Que nada! Mamar é o melhor. Chegaram prender o gato. Mas, ele deu um jeito, acabou fugindo.
Como pode? Os dois são sem-vergonha parece um complô de mãe e filho. Quando não é a Fofa é ele que vem rosnando e chamando...
Já está do tamanho da gata e, chega a fazer barulho quando suga o precioso líquido materno. O leite é produzido em quantidade, só falta escorrer pelos cantos da boca do rebento já criadinho. Como a natureza é sábia! Quanto mais ele suga, mais leite a danada produz.
Seria preciso levar essa história para adiante. Quanta mãe, mulher, que pensa, sabe raciocinar, não faz o que essa gata irracional se propõe a realizar. Começam a dar comida para o neném, e assim  desmamarem o quanto antes! Pobre criança! Se fossem filhos dessa gata estaria mamando por muito tempo.  O carinho entre mãe e filho, estaria garantido. Quantos traumas a menos por esse mundo de Deus.
A gata chamada Fofa, provou não ser uma mãe qualquer, criou os outros três gatinhos, um só morreu, mas não foi por desnutrição. A família mourisca toda se dá muito bem. Mamam, brincam, dormem todos juntos. Crescem, com o pelo cada dia mais bonito, lustroso, uma herança paterna.
A menina, dona da gatinha, ainda uma criança, também se incomodou com os modos do marmanjo. Uma certa tarde, resolveu dar um jeito na situação e colocar o gato na coleira. Disse ela:
- Vou prender ele, quero ver se continua mamando! - Arranjou uma coleira bem pequena, emprestada da Sapequinha, uma cachorrinha que faz parte do bicharedo familiar e, falou para o gato:
 - Agora quero ver você continuar mamando, judiando da Fofa!
Pasmem! Ela, a Fofa, ouvindo os mios chorosos do grandalhão, deixou os menorzinhos que estavam comodamente mamando e foi ao encontro do filho amado. Ele precisava de socorro.
Amor é amor não pode ser trocado nem entre os animais.
De nada valeu a coleira. Mamou do mesmo jeito.
A menina filosofou:
- Não adianta vamos soltar ele, a gata é que quer dar mamar para ele. A mãe é ela! Vamos deixar, ele que mame a vontade. Quero só ver se ela vai ter outros gatinhos o que vai fazer. Vai continuar dando de mamar para todos?
A natureza sempre a nos ensinar. Devíamos aprender a acolher a todos. Não rejeitar nem um filho, nenhuma criança, sejam filho de quem for. Todos precisam ser amados.
O mundo seria mais humano, não haveria menor de rua, nem criança abandonada. Viveríamos todos em paz, felizes. 

 

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de pura sedução" - Janeiro de 2017