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Nilva de Souza Cabral Lopes
Brasília / DF

 

Capelobo

Os compadres tinham seus filhos, e se visitavam sempre. O compadre Terêncio tinha dois, um menino e uma menina. O compadre Joaquim, tinha apenas um. Quando se encontravam, as mulheres muito conversavam que até esqueciam das crianças. O filho do compadre Joaquim tinha mania de morder o filho do compadre Terêncio, que nunca reagia só chorava. Não mordia a menina, apenas o menino. Aquilo intrigava os pais, que não sabiam como lidar com a situação sem trazer constrangimento à amizade que tinham. E todas as vezes que se encontravam, voltava o menino com os dentes marcados na pele branquinha. A irmãzinha muito esperta, sempre observava e ouvia os comentários dos pais na volta para casa. Não podemos mais ir à casa do compadre, o menino não para de morder nosso filho! Ficavam dias sem ir, para evitar chateação.
Mas o aniversário do afilhado se aproximava, compraram um presente, um carrinho, embalaram e levaram de manhã na casa do afilhado e levaram também os filhos. Ao chegar, entregaram o presente ao filho para que levasse ao afilhado e colocasse na cama dele. Assim, quando acordasse, o presente veria.
Enquanto o menino deixava o presente na cama, desperta o afilhado, que acorda irado e olha enfurecido, toma o presente da mão do menino e grita:  Você está roubando o meu presente? Antes que explicasse já levava a mordida, essa, quase arranca o pedaço do braço. Atracou os dentes de um jeito, que até tremia de tanta força que tinha na mandíbula. Os pais, desesperados tentam acalmar os meninos o outro pobrezinho, com o braço sangrando volta para casa tristinho, não fazia nada para se defender, ele gostava tanto do amiguinho. A irmã com apenas três aninhos, cuida do maninho, dá beijinho.
Ficam muito tempo sem ir visitar o compadre. Em uma noite o compadre Joaquim preocupado com os amigos, chama a mulher para visitar o compadre Terêncio e os filhos. Nesta noite, o menino estava mais calminho, foram brincar no quarto, pulavam na cama, entravam no berço, tinha brinquedo jogado para todo lado. Quando a menina percebeu que o coleguinha já ia atacar o irmãozinho, por causa da bola que ele queria, o chama num cantinho e diz tenho uma estória para te contar. O menino diz:
 – É? E ela com apenas três aninhos conta a estória do Capelobo para ele.
– Sabe Luizinho! Você conhece o Capelobo? Ele diz:
– Não. E ela diz bem baixinho:
– Senta aqui que vou te contar.
O menino se aconchega no berço, ele, o menino e a menininha.
 – O Capelobo é um bicho glandão, uma mistura de homem com um bichão bem peludo, olhos vermelhões, dentuço e de boca bem glande, tem quatlo patas bem glandonas, mas, anda em pé com um saco pleto nas mãos, ele corre muito e gosta de beber sangue. Ele diz: 
– Nossa! Onde ele fica?
– Ele fica nos telhados! Ele pergunta:
– Tem patas bem glandes? Ela diz:
– É! E se chama Capelobo.
– Nossa! Ele é feio?
– Sim muito feio! E sabe do que ele se alimenta? Ela pergunta ao menino.
– De que?
– De cliancinhas, e plefele os meninos maldosos.  Ele com uma carinha de medo diz:
– Ele tá no telhado?
             – Sim, ele fica nos telhados a noite, ploculando menino que gosta de morder os outlos. Por isso Luizinho, você não pode morder o Leozinho, senão, o Capelobo vai te pegar, te levar no saco, tomar o seu sangue e te cozinhar em uma panela gigante e te comer, e seu papai não vai te salvar, porque só clianças más vêm o Capelobo.
          – Não eu não mordo! Eu não sou mau.
         – Morde sim e é mau olha o blaço dele tem marca dos seus dentes. O Capelobo não esquece, mas se você não morder nunca mais, quem sabe o Capelobo esquece de você.  Eu posso falar com ele pra não te pegar.
O menino saiu do quarto, olhando pro telhado assustado, foi para o colo da mãe na sala e disse: 
          – Quero ir embora mamãe! Passado algum tempo eles voltaram para casa. Colocaram o menino para dormir. O menino assombrado não dormia olhando para o telhado, a mãe pergunta o que foi? Ele diz: – O Capelobo! E cai no sono, mas passa a noite gritando! Não Capelobo! Não! Os pais sem entender nada, levantam várias vezes a noite, acorda o menino e o acalma. No outro dia perguntam ao menino!
       –  Meu filho, o que é o Capelobo?
Ele diz:
–  A Neném me disse que é um bichão bem feio que fica no telhado para levar menino que morde os outros, ele estava no telhado. Os pais o acalmaram, levaram dias para convencê-lo que o Capelobo não existia, mas ele morria de medo e sempre lembrava do Capelobo. O menino nunca mais mordeu o amigo! Os pais comentaram com os compadres e eles admirados com a criatividade da menina! Aliviados pois não tinham mais chateação com mordidas.
Quando os pais perguntam para a filhinha, ela disse: Eu falei para ele do Capelobo que minha vó me disse que busca menino teimoso, então eu acledito que ele deve comer menino que morde também.
E assim nunca mais o maninho da menininha foi mordido pelo menininho. E o Capelobo nunca mais saiu do telhado da casa dele.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de quem passa... de quem entra... de quem sai... " - Dezembro de 2015