Roselena Salgueiro Ruivo
Belém / PA
Conto de uma solidão
Como o sol, ela saía todas as manhãs ao raiar do dia e ia deitando ao longo do caminho pedaços de alegria.
Deixava que seus olhos circundassem as montanhas, os pássaros em revoada, extasiando – se com o perfume das flores.
Corria de encontro ao vento, espantando a tristeza. E, ao longo do dia, ia perdendo seus medos, seus ais, seu tempo. Ali ela era senhora de si.
Banhava – se nas águas serenas do rio, encantava – se com a dança dos peixes, brindava com a natureza sua liberdade de ir e vir.
De dia vivia a ilusão de ser livre e feliz, soltava seu lado sonhador bordando no céu lindas borboletas coloridas, colorindo seu tempo, seus cabelos, sua rotina, suas amarras, seu cansaço de ventos.
E, ainda que a chuva caísse, seguia borrifando gotas de esperança desenhando sol onde chuva havia.
Mas a noite chegava e com ela uma pausa nos seus sonhos de liberdade e, assim retornava ao seu casulo, seu abandono de alma.
Não antes de saudar a lua, não antes de contar seus segredos às estrelas, não antes de mandar um recado ao vento: que trouxesse notícias alvissareiras que aquietasse seu coração. E fechava – se, novamente, dentro de si a espera de um novo dia.
Onde ela morava? Onde colocara seu mundo... Dentro de uma dolorosa saudade... Dentro de uma terrível solidão.
|
|
|
|
|