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Luiz Eduardo Martins de Oliveira
Rio de Janeiro / RJ

 

A cultura privada

  


O Reitor Mundial estava cuspindo marimbondo com o seu ‘Assessor Para Países Desenvolvidos’. Ele, assim, àquele se dirigia:
            - Você não viu o que fez?
            - Senhor...
            - Não tem senhor nem senhora!
            - Desculpe-me, senhor...
            - Cala essa boca! Eu fui falar com o Homem e não tive argumento algum! Você tem noção da repercussão mundial do fato? Tudo estava sendo filmado e gravado pela imprensa de todo o mundo? Estava tudo ‘ao vivo’, estava no ‘ar’ a entrevista dentro da sala do Homem! Como você classificou esse fato como P.D.?
            (Faz-se necessário esclarecer o leitor amigo que P.D. é a sigla de Países Desenvolvidos).
            - Senhor a classificação foi feita pelos Secretários com todas as informações constantes de nosso ‘banco de dados’. Todos os índices e informações prestados foram analisados como sempre.
            - Eu não quero saber de Secretário nenhum! Pra mim o que conta é você, que é o Assessor! E com tanto tempo de serviço não atinou que um pedido deste precisa ser analisado esmiuçadamente? Ainda mais quando se trata de uma inclusão? Como pode ter deferido uma coisa destas? Com uma inclusão nós devemos ser mais criteriosos e metódicos!
            - Mas senhor...
            - Não me fale mais nada até que eu te peça seu energúmeno!
            - Sim, senhor.
            Sim, meus amigos, o Reitor Mundial estava cuspindo marimbondo e fritando ovos em sua testa com o seu Assessor para P.D. Mas não era por menos, também.
            (Eu na qualidade de autor sinto-me envergonhado de ir até o fim da história, porque já estive por aquelas bandas e achei o fato, simplesmente, surreal. Mas, ainda assim, ele é verdadeiro, mesmo que o seja apenas em minha cabeça. E, talvez seja o bastante! Quando eu decidira rasgar este conto, uma influente amiga pediu-me para lê-lo e, honestamente, a opinião dela falou mais alto que a minha).
            Contaram que o Reitor após o fato foi visto várias vezes vendendo sanduíche natural pelas praias de uma cidade do País Desenvolvido. Já o Assessor, ninguém sabe ao certo seu paradeiro, mas diversas pessoas já lhe viram saindo de carros oficias, com motorista e sempre impecável, com boa fisionomia e um sorriso nos lábios.

...

            Refletores acesos, repórteres por todo o espaço da sala do Reitor Mundial, câmeras de televisões... A presença marcante do ‘Representante do País’ que ingressara na lista dos Países Desenvolvidos, segundo o rol da Reitoria do Mundo, a qual, altamente respeitada. Também estavam presentes membros de outros países, na cerimônia que todos nós podemos fazer ideia, ou imaginar, com o mínimo de tutano.
            Muitas fotografias da parte dos jornalistas dos quatro cantos do mundo. Enfim, uma noite memorável e histórica.
            Os repórteres, então, começam suas missões, e o primeiro deles, destacado membro da imprensa internacional, assim inicia:
            - Senhor Representante do País, como Vossa Excelência recebeu esta notícia da Reitoria Mundial?
            - Nós estamos nos sentindo engrandecidos e agradecidos ao Reitor Mundial, pelo reconhecimento de nossos esforços em transformar nosso País num mundo melhor.
            E com isso mais fotos de um lado e mais câmeras de outro.
            E continua o destacado repórter:
            - Senhor Representante a que Vossa Excelência atribui tamanho crescimento das Bibliotecas Públicas de seu País, cerca de setenta por cento, comparado com os últimos três anos?
            - Resultado de nossos investimentos ao acreditarmos na capacidade do povo.
            As câmeras e fotos mais lembravam um céu estrelado de interior. Ímpar e cintilante.
            Outro repórter aproveitando o ‘gancho’...
            - Senhor Representante do País, e em relação às Privadas?
            - Privada tem muita! Antes de iniciarmos nosso governo vimos quanta porcaria fizeram, e pelas contas de nossos Auxiliares, era preciso algo em torno de cinquenta privadas, por cabeça, para limpar toda a porcaria!

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de quem passa... de quem entra... de quem sai... " - Dezembro de 2015