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Lourdes de Oliveira Silva
Capanema / PA

O rico e o pobre

  


       José e Trajano nasceram no interior de Sobral, no Estado do Ceará, ambos cresceram, casaram-se e fixaram residência no referido município, desse mesmo estado, sendo o primeiro  muito rico, pois possuía fazendas de gado, de carneiros e engenhos de açúcar e o outro era muito pobre. O irmão rico tinha poucos filhos e o irmão pobre muitos  filhos e não tinha condições de dar nem o básico em termos de alimentação, vestuário, remédio, educação etc.
        Na época da seca por volta de 1915, Trajano, o pobre, não tinha mais de onde tirar e nem como conseguir alimentação para seus filhos e tinha vergonha de pedir ajuda ao irmão rico, pois ele era muito ruim, avarento, sovina, mas mesmo assim, as vezes, deixava a vergonha de lado e pedia ao seu filho mais velho que fosse na casa do tio  pedir um pouco de farinha para fazer mingau para os filhos. O tio se prevalecia da situação  e dizia ao sobrinho:  -Eu dou a farinha se você correr (determinava a distância que a criança deveria percorrer) sem parar, e sem demonstrar cansaço, assim a criança fazia e quando chegava em casa contava ao pai. O pobre pai já não aguentava mais tanta humilhação, tomou uma decisão e disse:
      -Vou matar um carneiro deste filho da mãe para dar comida aos meus filhos, pegou um trabuco velho e foi ao curral de carneiros para matar um, parou diante dos carneiros, respirou fundo, fixou o olhar nos bichinhos, escolheu o mais bonito do rebanho, respirou fundo novamente, fez pontaria, fez que puxou o gatilho, mas não teve coragem, respirou fundo outra vez e disse:
     - Não tenho coragem de fazer isso com meu irmão, por mais ruim que ele seja, é meu irmão, e os carneiros não tem culpa da ruindade dele e muito menos de minha pobreza, colocou o trabuco no ombro e foi para casa. Quando chegou em casa disse:
    - Mulher!  Vamos embora daqui para outro estado?
    - A mulher perguntou:
    - Como Trajano? – Não temos dinheiro nem para dar alimento aos nossos filhos, vamos ter dinheiro para viajar?
    - Mulher presta atenção no que eu vou dizer: - O governo está dando passagens para  o povo  fugir da seca, é a nossa chance. A mulher concordou e Trajano foi em busca das passagens e conseguiu para Belém do Pará. No outro dia logo embarcaram e  chegando em Belém, a família apanhou o trem cuja linha era Belém-Bragança e foram desembarcar lá na colônia Benjamin Constant, onde fixaram residência. Algum tempo depois sua esposa faleceu, Trajano e seus filhos sofreram muito, mas a vida continuou e este trabalhava pesado na agricultura para dar conta do recado. Duas filhas de Trajano casaram-se e ele resolveu mudar para os Campos de Benjamim Constant com os outros filhos. Um belo dia conheceu uma moça chamada Teodora, filha de Português com quem casou-se novamente. Na época, o governo do estado estava doando terras, Trajano aliou-se ao Coronel Leandro Pinheiro, e este ordenou à ele que pegasse quantos lotes quisesse, assim ele fez e se deu muito bem, pois em pouco tempo Trajano possuía bastante gado, porcos, galinhas, patos, perus, etc. O casal ainda teve quatro filhos e viveram felizes até que a morte os separou.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de quem passa... de quem entra... de quem sai... " - Dezembro de 2015