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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

O tempo não para

  

   No início dos anos oitenta, um jovem chamado Joel Antunes, morava no interior do Estado do Rio de Janeiro, apesar da pouca idade, era um rapaz muito conhecido no lugar, devido ao envolvimento dos seus familiares com o samba local, embora ele compartilhasse mais os seus momentos com os jovens que pertenciam a um grupo de roqueiros conhecido como “Os Cocotas”.
   Joel foi jogar futebol num clube recém criado, um verdadeiro timaço, onde a população local prestava um especial apoio. Pouco antes do início do Campeonato da Liga Amadorista da Baixada, um mutirão foi organizado por moradores voluntários, com habilidades administrativas, para confeccionar as fichas de inscrição e carteirinhas dos atletas, e dentre os voluntários, se encontrava a bela Rosely Góis, cabendo a ela, justamente a inscrição de Joel. Naquele momento, ao ver uma pequena fotografia, a jovem sentiu o coração pulsar mais forte no peito, estava sendo plantada em seu coração uma sementinha do amor, mas ela ainda não sabia disso.
   Certo dia, no início da carreira militar de Joel, uns amigos o convidaram para uma confraternização na casa de um deles, o que foi prontamente aceito pelo rapaz. Rosely já não o via algum tempo, e nem nutria mais o interesse por ele, ela também havia sido convidada para o mesmo evento. Ao chegar o rapaz cumprimentou a todos, foi então que ocorreu o primeiro olhar entre eles, onde ele pode observar o rubor no rosto da jovem, que desviou seus olhos para uma outra direção, se dando contas de que aquele sentimento que manteve em segredo, estava vindo à tona com toda força. Ele quis saber quem era ela, e passou toda festinha observando cada passo, e sorrindo a cada sorriso dela, até que se aproximou. Todos ali já haviam percebido o clima de romance que pairava no ar, eles até se relacionavam com os demais, mas seus olhos só viam um ao outro, então se renderam e se entregaram aquela paixão. Tudo isso assistido de perto pela mãe da moça, que não se opunha.
   O amor era grande entre eles, era notório o prazer que sentiam da companhia um do outro, o sexo tinha importância, havia muito desejo, mas não causava danos por não se fazer presente. Ela sonhava com sua noite de núpcias, onde se entregaria pela primeira vez ao seu consorte, isso a tornava ainda mais especial, e aumentava o desejo para que este dia chegasse logo. Ficaram noivos e iniciaram os preparativos para o casamento, sempre contando com o essencial apoio dos pais dela. O clima de felicidade era comum a toda família.
   Do nada, Joel passou a se comportar diferente, começou a buscar diversão sem a noiva, se deixou levar por conversas machistas de rapazes que nada sabiam da vida, assim como ele, mas se achavam o tal. Aquilo deixava Rosely triste, ela percebia que aquele não era o homem por quem se apaixonou, não foi com aquele que não compreendia seus sonhos que ela planejava viver ao lado, mas não sabia o que fazer para mudar aquela situação, então viu o seu grande amor escapar por entre os dedos, restando apenas lamentar pela escolha dele, e se manter de pé para curar as próprias feridas.
   O rapaz não saiu ileso daquela insensatez, não tardou para o arrependimento manifestar-se, mas lhe faltou coragem para assumir que errou, e humildade para pedir perdão. Escolheu a reclusão como armadura, na verdade, só se expôs ao sofrimento, e o sofrimento o expôs a erros ainda maiores, o deixando incapaz de encontrar prazer em outros braços, mesmo com o sexo que julgava essencial. E o tempo foi passando, passando...
    O tempo, se não cura, ameniza, então ambos seguiram suas vidas da melhor maneira possível. Rosely se casou com quem a merecia verdadeiramente, com quem foi capaz de valorizá-la e por quem aprendeu a amar, o passado ficou no passado, e assim encontrou o caminho da sua felicidade. Joel amargou um pouco do próprio veneno, perdeu um bom tempo tentando curar suas feridas e, ao mesmo tempo, pagando pelas consequências de suas atitudes, como tem que ser. À medida que o tempo foi passando, ele foi se encontrando, e, pode-se dizer que também encontrou o caminho da sua felicidade, onde foi aprendendo a manter-se nele. Como seria se tivessem seguido suas vidas juntos, se seriam felizes com seus filhos, ou até mesmo se ainda estariam juntos, isso nunca haverá uma resposta, a vida simplesmente seguiu, porque o tempo não para.
   Além do casal Rosely e Joel, haviam os familiares, os dele pouco se envolveram com Rosely, já os dela, acolheram Joel como sendo da família, os laços que os uniam trazia mais que o romance dos dois, ele não era visto pelos pais dela apenas como um genro, além de amigo o amavam como a um filho, levando-o inclusive a morar com eles. E foi justamente todo esse amor e a consideração da família, que afastou o rapaz após o rompimento do noivado, por trazer sobre os ombros o sentimento de culpa e o remorso, ele não se sentia digno, nem tinha forças para olhá-los nos olhos, então se afastou, e tempo foi passando, passando...
   Depois de um longo tempo, Joel teve um sonho com aquela que um dia o acolheu como a um filho, fazendo com que seus pensamentos fossem ocupados pelas lembranças do passado. A emoção inicial deu lugar à preocupação, tendo em vista que o sonho se repetiu por outras noites, era como se aquela senhora o chamasse, como uma mãe chama por um filho ausente. Joel guardava no peito a dor de nunca ter demonstrado a sua gratidão àquela família, nem o quanto os amava, verdadeiramente.
   O coração de Joel ouviu o chamado, e foi à procura daquele coração que o chamava, e tudo conspirou a favor, ele os encontrou. Houve um misto de emoção e medo, temia confirmar que tudo havia acabado, e que só restasse a indiferença. Mas o amor estava ali guardado nos corações de cada uma, bastando apenas se olharem para perceberem que nunca deixaram de ser uma família. Agora a família cresceu, e o tempo se encarregará de unir aqueles que ainda não se conheciam. Que estejam prontos, e com os corações abertos, pois o tempo não para.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos de quem passa... de quem entra... de quem sai... " - Dezembro de 2015