Lourival da Silva Lopes
União / PI
O voo da águia
- Como surgiu a vida? – Perguntou-me Carina.
-Sei lá. Pergunta difícil de ser respondida – tentei me desculpar.
Esses jovens fazem cada pergunta! Ah! Lembrei-me de perguntá-la:
- A qual vida você se refere?
- E existe outra? – Prontamente me indagou.
- Não. Existem outras. Muitas.
- Mas eu estou falando é da nossa vida, da vida humana – devolveu-me.
- Ah, claro! Vida humana! Que importa qual vida seja? Vida é vida. Humana, animal, vegetal, bacteriana, micro etc. Tudo é vida.
- Entendi. Mas falta entender como surgiram essas vidas.
- Exatamente. Mas não é fácil. Tanto não é fácil que os cientistas estão buscando conhecer outras galáxias, inclusive planetas, cometas, satélites, estrelas...
Carina não se conteve.
- Quer dizer que a vida não é um dom de Deus? Não foi criada por Deus?
- Talvez, se se dissesse que sim, fosse uma explicação muito fácil e, até, convincente. Mas você não acha que isso tiraria a possibilidade de qualquer investigação científica? Uma ideia prevalecerá, se for impossível investigá-la, contestá-la, refazê-la. E isso não é o que vemos acontecer. Muitas ideias, tidas como verdades, caem por terra, diante da contestação, da análise argumentativa, da crítica cuidadosa e criteriosa e, principalmente, diante da experimentação.
Carina tem treze anos e está no oitavo ano do ensino fundamental. Não quer saber de conteúdos mecânicos, programados e definidos pelos professores. Gosta de questionar, de contestar. De querer saber o porquê das coisas. Algumas vezes, é incompreendida, tida como antipática. Mas não se cala.
Eu a observo muito. Dou-lhe todo o apoio de que precisa, para compreender as coisas. Isso me ajuda a ler mais, a buscar fontes para oferecer-lhe. Creio que isso favorecerá o seu crescimento intelectual.
É ela, de novo:
- A propósito, professor, como surgiu a vida?
- Bem, Carina, sou professor de linguagem, tenho a obrigação de abrir portas para você.
- O que você me sugere?
- Que tal Adam Rutheford?
- Nunca ouvi falar nele. Mas já li Stephen Hawking, outro dia. Fiquei impressionado com a idéia dele sobre o universo.
- Muito bem! Adam Rutherford tem um livro, lançado recentemente no Brasil, intitulado: Criação – a origem da vida. Talvez você encontre as respostas para a sua pergunta.
- Quero ler. Deve ser muito interessante.
- Vou emprestá-lo. Depois, voltamos a conversar sobre como surgiu a vida.
É ficção essa conversa? Talvez, sim. Talvez, não. Mas pode perfeitamente acontecer em nossas escolas, se, em vez da castração intelectual dos alunos, os professores começassem a ensinar o prazer de voar. Mas, para que isso aconteça, as escolas devem ser asas, como ensinava Rubem Alves.
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