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José Vicente Neto
Pratápolis / MG

Noblesse oblige

 


         Era uma vez... um conto de fadas...
         Uma história triste com um final trágico.
         Foi assim...
         Uma linda princesinha vai estudar na escola do reino vizinho. Todos os dias pela manhã ela viajava até lá e voltava à tarde. Lá foi muito bem acolhida pelas princesas daquele reino e logo se tornaram boas amigas.
         Nesta escola havia muitos príncipes. Belos e educados rapazes, que logo começaram a cortejar a princesa do reino vizinho.
         Dentre os príncipes, como em todo conto de fadas, tinha que ter um príncipe encantado. Mas qual deles seria ele?
         A princesinha, que vivia em um reino menor, começou a conhecer outros horizontes. Muito estudo, novos amigos, mais responsabilidades...
         E assim se passou um ano.
         Seu pai, um rei muito zeloso, sempre dedicava muita atenção a ela. Acompanhava tudo pessoalmente.
         Logo os príncipes do reino vizinho, começaram a frequentar o reino de cá. E muitas princesas também vieram.
         O palácio do pai da princesa estava sempre de portas abertas para esses nobres jovens que tornaram amigos e amigas de sua filha.
         Dentre os príncipes, um deles se tornou um amigo mais próximo da linda princesinha.
         E as idas e vindas dos príncipes e princesas de lá se tornavam cada vez mais frequente. E toda noite tinha-se a preocupação em organizar quem viria buscá-los, especialmente, para saber quem iria levar o príncipe, aquele que se tornara mais amigo da princesa.
         Não que ele não tivesse pai para buscá-lo, mas acontecia naquele período um momento difícil para os pais dele, que apesar do porte de nobreza que apresentavam, na verdade eram plebeus e com poucos recursos, deixando o “príncipe”, muitas vezes, sem condições de transporte de volta.
         Considerando as qualidades daquele “príncipe”, seu carisma, e a amizade de sua filha por ele, o rei providenciou um quarto no castelo para ele, resolvendo assim, as eventuais dificuldades de retorno.
         O jovem príncipe da nossa história começou a namorar uma garota do reino de cá, também plebeia como ele. Aumentando assim, os motivos para ele ficar hospedado no castelo da princesa sua amiga.
         Pois bem, passado pouco tempo, num dia de festa no Palácio, o Rei percebeu que o seu hóspede tratava sua filha de maneira diferente da habitual.
         Após a festa o Rei chamou a princesa para conversar e perguntou a ela o que estava acontecendo. E ela, muito meiga, disse ao pai que o “príncipe” estava apaixonado por ela e que ela também estava se apaixonando por ele. Contou que a namoro dele, lá no reino, foi uma tentativa que ele fez para não se apaixonar mais ainda por ela, porque ele acreditava que o Rei não permitiria o namoro deles e aproveitou para indagar o pai se ele consentiria o namoro dela com um plebeu.
         O Rei já havia se apegado àquele jovem como se ele sempre tivesse feito parte do seu reino. Considerando a longa convivência e o bom comportamento daquele “príncipe”, não encontrou motivo para impedir a felicidade de sua princesa e permitiu que o jovem a cortejasse.
         Foi um período maravilhoso o namoro deles. O jovem plebeu do reino de lá se revelou um verdadeiro príncipe, a princesa se tornara mais alegre e o reino de cá se encheu de muitas alegrias.
         Mas onde está a parte triste dessa história?
         Bem, a princesa tinha muitos amigos no reino, e alguns deles, não eram nobres, mas a nobreza da princesa era tanta, que os tratava como verdadeiros nobres. Esses pseudo-nobres, na verdade eram pseudos-amigos também. Eles invejavam o “príncipe” do reino vizinho e no íntimo queriam destruir aquele conto de fadas que eles acompanhavam desde o início.
         Então se aproximavam cada vez mais do “príncipe” e convidavam o casal para irem às festinhas que organizavam em suas casas. Depois de algum tempo convidaram o “príncipe” para se hospedar na casa deles. E o “príncipe” começou a mentir para a princesa dizendo que não poderia ficar porque teria que voltar para casa.
         Daí alguns dias, uma das amigas plebeia, mais atrevida, conseguiu fazer com que o “príncipe” se encontrasse com uma outra plebeia em plena praça, onde a princesa estava passeando, com o propósito claro que ela visse.
         Foi fatal o plano maquiavélico daquela amiga plebeia.
         Acabou-se aquele conto de fadas naquele exato momento em que a princesa vê o seu grande amor beijando uma qualquer, publicamente, diante de todo o reino.
         E como se não bastasse toda tragédia emocional, esse grupo de pseudo-amigos, do qual o “príncipe”, agora fazia parte, envolvem-se em boemias, mentiras e drogas.
         O “príncipe”, agora sem pose de nobre, perambula em um reino distante, em sua real condição de plebeu.
         A princesa, que ficou muito ferida nessa história toda, continua seus estudos e aos poucos recupera sua alegria e volta a encantar o seu reino.
         E para a alegria dos verdadeiros príncipes do seu reino e dos reinos vizinhos a princesa está solteira.
         E o conto de fadas, agora, está apenas começando...
...

* Noblesse oblige, "nobreza obriga". Expressão utilizada quando se pretende dizer que o fato de pertencer a uma família de prestígio ou ter uma certa posição social obriga a proceder à altura do nome que se tem. A distinção social associada à nobreza faz com que esta palavra também seja usada quando se fala em elevação de sentimentos ou de conduta. A um nobre exige-se que se comporte como tal.


 
 
Conto publicado no livro "Contos Selecionados de Grandes Autores Brasileiros" - Maio de 2016