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Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

Fruto da paixão

 

A menina e sua tia foram visitar uns parentes em uma cidade grande. O Rio de Janeiro era um pouco assustador para uma criança que residia no interior. Os bondes, muitos ônibus, pessoas caminhando apressadas, enfim, tudo diferente aos olhos de alguém acostumado com movimento pequeno e com um grande espaço de céu azul sobre sua cabeça.
As duas chegaram ao destino. Era uma casa de vila, com janelões, uma pequena escada com um corrimão. Todas as casas eram exatamente iguais na arquitetura, diferenciavam-se porém nas cores discretas, em tons pastéis.
Adentraram a casa e foram bem recebidas por uma senhora, casada com um dos tios da garotinha. Foram todos amáveis, embora não simpatizassem com a ideia de que morassem na "roça", conforme se referiam à pequena cidade para onde aqueles parentes se mudaram.
Pois bem, conversa vai, conversa vem, chegou a hora do lanche. Pobre da menina, já estava com a "barriga nas costas". Havia frutas sobre a mesa, dentro de uma linda cesta e foi o que lhes ofereceram. Viam-se bananas, laranjas, tangerinas e maçãs. Todas lindas, saudáveis. Na casa da garotinha havia fartura de muitas frutas que davam no próprio quintal, inclusive laranjas e bananas de vários tipos, mas ela estava encantada com as maçãs, já que eram quase como um fruto proibido. Só as comia quando ficava doente e nunca eram tão bonitas e apetitosas. Aquelas eram vermelhas como as da árvore do Paraíso e como a que a bruxa oferecera para a Branca de Neve. Já conhecia o sabor, mas não era o sabor que a atraía, mas sim o tamanho da fruta e o vermelho da casca, perfeita e lisinha.
A senhora ao invés de colocar algumas frutas no prato para que a garota as pudesse saborear, mandou que ela escolhesse uma. Criou-se então uma expectativa. A tia olhava sorrindo para ela, contudo os olhos diziam-lhe para que não pegasse a maçã. Ela entendeu a mensagem  e aceitou uma laranja, entregando-a à tia para descascá-la. A dona da casa sorriu satisfeita e a acompanhante da menina mais ainda, e também aliviada, pois a garotinha demonstrara boa educação. Saíram da casa com fome e a nossa amiguinha completamente frustrada, já que perdera a oportunidade de morder aquele fruto apetitoso, de sentir os dentes penetrando aquela casca vermelhinha, cortando-lhe as entranhas, fazendo um barulho gostoso, percebendo o cheiro e o gosto adocicado daquele pomo.
Acabara o passeio e o encanto da visita. Só lhe restava agora o retorno para casa, aproveitar o cheiro da maresia enquanto estavam na barca e depois apreciar a paisagem pela janela do ônibus. A viagem causou-lhe náuseas, pois o estômago estava quase vazio e o coração apaixonado pelo fruto proibido.

 
 
Conto publicado no livro "Contos Selecionados de Grandes Autores Brasileiros" - Maio de 2016