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Letícia Alvarez Ucha
Porto Alegre / RS

 

Farol na escuridão

 

Alessandra havia começado a dar aulas de Geografia havia algumas semanas em uma cidade perto da capital onde morava. Precisava complementar o baixo salário que ganhava como professora. O marido estava na Irlanda com alguns amigos buscando boas oportunidades, mas a vida não estava fácil para imigrantes.
Costumava deixar a filha Catarina de dois anos aos cuidados da avó, mas certo dia a tal senhora gripou e não pôde ficar com a neta. O jeito foi levar a menina para o trabalho e deixou a criança na secretaria da escola.
Já era mais de 22 horas quando a aula terminou. Alessandra encontrou a menina dormindo e a colocou no carro.
A estrada estava com pouco movimento de automóveis e sem iluminação adequada. Somente os faróis iluminavam. Notou que havia um grupo de rapazes junto ao acostamento usando capuzes. Sentiu um calafrio e pisou mais forte no acelerador.
Um carro que estava também na pista começou a aproximar-se. O carona gritou:
- Moça, você está com pneu furado! Cuidado a pista está escorregadia!
Alessandra temendo ser uma armadilha prosseguiu e não parou o carro. Catarina acorda com o barulho.
De repente, ouve-se um choque na frente do carro. Ovos foram jogados dificultando a visibilidade para dirigir. Alessandra decide ligar o limpador do para-brisa.
Péssima ideia. Este fica totalmente sujo com as gemas e claras cruas. Não teve outra solução a não ser parar o carro no acostamento.
Nervosa procura no porta-luvas algo que a ajude a limpar o vidro. Catarina dá um grito. Alessandra olha para o lado e depara-se com um homem junto à porta do motorista batendo na janela com um sorriso. Ele estava bem vestido, pensou que poderia ser alguém para ajudar.
Ela abre o vidro em busca de ajuda e o homem tira do seu bolso um lenço envolto em éter. Alessandra desmaia imediatamente. Passados alguns minutos acorda. Vira-se para trás e não vê sua filha no banco.
Começa a tremer , abre sua bolsa procurando o celular. Tenta ligar para a polícia mas não consegue sinal. Sai do carro e começa a gritar por sua filha.
A noite escura, iluminada só pela lua e poucas luzes. Som de grilos vindo do matagal junto ao acostamento. O desespero começa a tomar conta de Alessandra que fica andando de um lado para outro sem rumo. Não consegue compreender o que aconteceu.  Entra para seu carro em busca da filha e vê que a chave não se encontra no mesmo. O homem misterioso levara a chave.
Luz de faróis aproximam-se. Era um carro da polícia federal. Alessandra começa a gritar por ajuda.
Conta ao policial Paulo o acontecido. Este comunica-se com seus colegas que estão em um posto próximo pelo rádio. Uma patrulha chega e o carro é isolado em busca de algum rastro deixado pelo estranho homem.
Alessandra suplica para que o policial Paulo a leve junto nas buscas pela menina. Ele resiste, mas acaba cedendo ao apelo .
Andam alguns quilômetros e avistam um caminhão parado junto ao acostamento sem qualquer sinalização e com as portas abertas. Diminuem a velocidade e a luz dos faróis.
Paulo informa o colega que há um caminhão suspeito e pede reforço. Pelo GPS os policiais conseguem obter a informação exata do local. Um cheiro de podre começa a pairar no ar enquanto o veículo do policial aproximava-se.
Alessandra fica atônita com o que vê.
- É melhor que a senhora fique aqui. – disse o policial Paulo pegando uma lanterna.
O caminhão estava abandonado, uma poça de sangue junto à porta do mesmo que estava aberta. Dentro do caminhão havia muitas carnes de animais, provavelmente o mesmo pertencia a algum frigorífico ilegal, pois não havia qualquer identificação de empresa.
Alessandra não se contém e desobedece à ordem do policial e sai correndo em direção ao caminhão. O federal que já encontrava-se dentro do mesmo avista corpos de várias crianças com idade no máximo de 1 a 2 anos. Algumas já em estado de decomposição.
A lanterna ilumina três crianças que aparentemente estão respirando. Paulo aproxima-se.
Alessandra quando vê a cena tenta gritar, mas em choque não consegue. Aproxima-se e percebe que sua filha e as outras duas crianças ainda estão com vida. Começa a chorar desesperadamente num misto de alegria e pavor.
Paulo verifica toda a área e grita :
- Está limpo! Não há nenhum elemento suspeito na área.
- Estas três crianças devem estar somente desacordadas. Vou chamar o SAMU.  –  disse Paulo já efetuando a ligação.
Ligou também para o Delegado e este informou que há tempos uma quadrilha que sequestrava crianças para vendê-las para o exterior estava  sendo procurada.
Alessandra olhou para o céu e agradeceu a Deus por sua filha ter sido poupada.

 
 
Conto publicado no livro "Contos Selecionados de Grandes Autores Brasileiros" - Maio de 2016