Isabel
Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
O destino de Kelly
Certo dia ao ir a em seu mecânico para consertar a moto,
Tadeu deparou-se com um ajudante da oficina que não conhecia.
Era novo ali. Parecia meio imaturo no falar e nas atitudes. Enquanto
aguardava ficou conversando com o rapaz que lhe confidenciou que
precisava de uns trocos para comprar uns “bagulhos”.
Foi, então, que Tadeu percebeu que o que observara não
era imaturidade, mas alguém agindo sob efeito de alguma
substância não legal em todos os sentidos. Mais surpreso
ficou quando o jovem ofereceu para ele comprar sua mascote que
não tinha condições de cuidar, pois não
tinha quem ficasse com ela e não poderia levá-la
sempre para o trabalho, conforme lhe advertira o empregador.
Tadeu nem pensou muito, de imediato tratou o valor e levou consigo
o animalzinho. Uma cachorra baia, de raça. Em sua família
haviam perdido o mascote que tinham. Foi fácil aceitarem
a nova companheira, que passou a morar em sua casa. Deram-lhe
nome, arrumaram um cantinho para ela que logo se tornou pequeno
devido ao seu tamanho avantajado.
Era uma cachorra dócil, amiga, companheira. Convivia pacificamente
com a gata que a família de Tadeu já possuía.
Certa vez ela fugiu, Ficaram desesperados, mas logo a encontraram.
Outra ocasião passou meses em uma outra casa onde morava
o pai de seus filhotes. Voltou para casa. Mas a estada em outra
casa logo se repetiu. Foi fazer companhia para a avó de
Tadeu em um bairro distante. Passados alguns meses ela fugiu.
Aí, como já se mostravam desinteressados pela companhia
do pobre animal não se interessaram em procurar. Deram-na
como desaparecida e fim de história.
Uma pessoa amiga não se conformou com o sumiço da
cachorra. Com a permissão dos donos, ou ex-donos, passou
a procurá-la. Fez cartazes e colocou nos postes no bairro
onde ela estava antes de desaparecer. Colocou avisos e cartazes
nos bares. Não demorou muito para um telefonema indicar
onde estava a fujona. Lá foi Mariana pegar a companheira,
pois como ela frequentava assiduamente a casa de Tadeu, ela tinha
além de intimidade profundo carinho pela Kelly (esse é
seu nome).
Constatou que era uma senhora sozinha que a tinha encontrado.
A princípio assustara-se pelo seu tamanho, mas logo percebeu
seu temperamento dócil e amigo. Morava dentro da casa e
fazia-lhe companhia. Entregou, não sem pesar para Mariana
que também sentiu pena da solidão da senhora. Até
pensou em deixar Kelly com ela, mas seu sentimento falou mais
alto. Levou-a consigo. Ficou com ela. Era sua companheira também.
Circunstâncias a fizeram mudar de sua casa para um apartamento,
impossibilitando a permanência de Kelly no local devido
às regras do condomínio.
Quando abaixo os olhos e a vejo estendida aos meus pés,
questiono o que o destino ainda lhe reservará?
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