Varenka de Fátima Araújo Garrido
Salvador / BA

 

 

Um certo Bob

 

           

O diabo anda solto por aí, eu não gosto. Até que o Bob não anda solto, vive cercado de seguranças.  Ele planejou, deu uma certeira rasteira e destronou a Rainha Vermelha, não teve pena do coitado do cachorro da nobre destronada, nem um pouquinho de todo mundo, ou, dos outros cachorros. O Bob é o Rei com sua coroa na cabeça, de uma raça dura de se adestrar, finge que é bonzinho para seus súditos, mas bate e bate mesmo. Continua com sua máscara, os bobos da corte estão sumindo, de verdade, ele não percebe, o coitado insiste em discursos sem nexo, continua de pose, só de boa.
Os dias vão escorregando pelo seu nariz.
Eu sei, tudo vai ficando claro e a cachorrada está ficando braba, apenas lamentando.
Um certo dia, um dos seus próprios súditos fez uma traição, o Rei Bob foi destronado, seu inimigo mandou encerrá-lo em uma torre velha e fria, com direito a uma única ração por dia. Bob foi definhando, com saudades da sua bela cachorra, que fugiu com um cachorro de raça superior.
Já idoso (mas já tinha feito plástica), passados uns dias, o carcereiro foi levar sua parca ração, encontrou o prisioneiro morto, já em estado de decomposição, foi jogado ao léu.
A vida é passageira, não levamos nada, nem o pelo do Bob foi preservado. Na verdade, o cabelo sendo guardado numa urna, feito peruca, colocado em retrato fica para todos os tempos. O resto fica numa tumba, com o tempo, vira pó. Nada restará.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017