Valter Rodrigues Cavalcante
São João do Piauí / PI

 

 

O gato comeu por instinto

 

           

Em um povoado de nome Alegre, havia um garoto conhecido como Guri, apelido que recebeu logo que nasceu,. Dado por um homem que tinha vindo das bandas do Sul e se hospedou na casa da Filó, mãe do garoto. Ao ir embora, recomendou à Filó: “Cuida bem do guri”. E desde então o garoto ficou conhecido por este apelido.
Criado em meio às árvores, pássaros e uma natureza deslumbrante, Guri, de sua casa ele olhava no horizonte e via uma serra e um morro, uma de pareia com o outro; e a silhueta da junção dos dois parecia um lindo sorriso.Então o garoto foi até a sua mãe, e disse para ela que ele via um sorriso naquela imagem, e sua mãe disse:
- Filho este lugar tem este nome –Alegre -, por causa daquele sorriso da natureza.
O garoto era apaixonado pelo seu gato, chamado Bibi. Muitas vezes ele acordava em sua cama com o gatinho esfregando-se no seu rosto; e aquilo era fascinante para o Guri, mas outro fascínio que ele tinha era pelos passarinhos, pela natureza.Ele acordou cedo foi até o banheiro, escovou os dentes e quebrou o jejum com bolo e café com leite, e o Bibi sempre se esfregando no garoto, depois o Guri se sentou em uma cadeira de fios que estava na calçada de cimento que tinha na frente de sua casa, colocou o gato no colo e ficou apreciando a imagem do sorriso da natureza. Elogo veio o sol que paulatinamente foi subindo e aparecendo sobre a serra, e ele ficou ali até que ele viu naquela cena a natureza piscando para ele, pois tinha um sorriso e um olho aberto, que era o Sol, e dava para entender que do outro lado o olho estava fechado.
Com isso o garoto decidiu que iria até aquele local para ver qual era a sensação de estar dentro do sorriso da natureza. Colocou o gato no chão. foi até o quarto onde era usado como despensa e lá pegou uma moringa e encheu de água, pegou sobre a mesa uns pedaços de tapioca e saiu rumo ao sorriso do Alegre. A sua ansiedade fez com que ele chegasse logo, e já no meio do sorriso ele ficoucom a dúvida se subiria no morro do Alegre... Ou na serra do Alegre... E depois de algum tempo ele resolveu subir na serra, e em meio às barrocas e pedras soltas e algumas árvores, ele foi até o topo e chegando lá ele começou a olhar todo aquele verde florestal. De lá dava até para ver a sua humilde casa bem ao fundo.
Então, ele sentou em uma pedra e ficou por algum tempo tentando fotografar
aquela imagem tão deslumbrante em sua mente, e neste momento ele olha
para cima e vê um gavião em voo rasante; o desfecho foi na morte de uma
rolinha. Então o gavião pousou em um pé de pau d’arco que era a maior árvore naquele local, e ficou rasgando com suas garras e degustando  a presa. Guri olhou na direção onde estava a rolinha e, percebeu que na árvore havia um ninho. Assim ele foi até lá e subiu na árvore para saber se havia filhotes; e lá havia dois filhotes, já prontos para vôo. N neste momento o Guri decidiu que levaria os filhotes para cuidar, pois acreditava que se deixasse ali com certeza morreriam.
Chegando a sua casa, já era fim de tarde e o Guri se deu conta que ele não
tinha uma gaiola para colocar os filhotes de passarinhos, mas logo ele arrumou
uns tijolos, e fez uma base debaixo da mesa que ficava no quarto de dispensa
e, ali ele colocou os filhotes e cobriu com um pano, na sequencia ele lembrou
que deveria alimentar os filhotes e foi na cozinha e apanhou arroz e quebrou
em um pequeno pilão, que era usado para fazer tempero, e colocou um pouco
de água, e aquela quirela foi inchando e o Guri foi colocando no bico dos
filhotes, que encheram os papos, depois ele ajeitou o pano para cobrir os
passarinhos, e foi se deitar; logo o gato Bibi chegou-se cobrando carinho e deitou
sobre o seu peito. Guri falou para o gato que não era para mexer nos
filhotes, e foi dormir.
No dia seguinte, o Guri acordou e percebeu que o gato não estava do seu lado,
uma sensação ruim surgiu dentro do seu peito, e correndo foi ver os seus filhotes e chegando lá ele já percebeu que o pano estava revirado,e constatou que só restavam penas. Naquele instante o amor que ele tinha pelo Bibise transformou em um sentimento ruim, e tomado pela raiva ele foi até os dois cachorros vira-latas que criava, e deu o comando para que pegasse o gato, e estes foram na direção do felino e um dos cachorros quase o abocanhou, que com sua agilidade subiu em uma árvore que ficava no quintal, com isso o Guri pegou uma vara e cutucou o gato,que caiu no chão e os cachorros mais uma vez tentaram abocanhá-lo, e estedeu um pulo de pirueta espetacular e se livrou dos cães, e subiu em uma cerca de madeira e por sobre as pontas das varas ele sumiu mata adentro.No dia seguinte, o Guri acordou sem o gato do seu lado, ele por uma decisão precipitada tinha perdido o amigo, que era tão amado e foi odiado por alguns minutos. Na hora do almoço a sua mãe comentou que não tinha visto o Bibi já fazia muito tempo. E o Guri não teve coragem de falar o que tinha acontecido,depois disso.
Passaram-se alguns meses e nada do gato voltar, até que um dia o seu tio Tião, que morava em outro povoado de nome Jatobazeiro, deu notícia de um gato manso que estava roubando comida nas casas dele, e da vizinhança, e sua mãe logo foi falando:
- Talvez seja o Bibi, porque ele sumiu já faz muito tempo.
E naquele momento o Guri teve um alívio em seu coração, pois ele agora tinha
certeza que o seu gato estava vivo e, sobrevivendo através do seu instinto, e
ele se deu conta que o fato do gato ter comido os filhotes tinha a ver com o
instinto animal, e o amor pelo gato voltou com a certeza que um dia eles
poderiam se ver de novo, porque o Guri iria à busca do Bibi.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017