Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS

 

 

Sem retorno à terra natal

 

           

Ele era jovem, bonito e saudável. Segundo filho de um casal do sul do Brasil. A mais velha, Lorena, ele, Eduardo e o caçula, Rodrigo. O pai era do exército. Família de classe média, viveram sempre no sul, em cidade de porte médio. Como era de esperar, Eduardo seguiu a profissão do pai e ingressou no exército. O incentivo era natural. Respeito, boa remuneração, segurança eram fatores que contribuíram para a escolha, além de agradar o genitor. Tempos de paz, contribuíram, também. Afinal, nenhum risco a temer.
Em certa ocasião o pai conseguiu uma transferência para outro estado.
Foi toda a família, inclusive Eduardo que também obteve transferência.
Lá ficaram cerca de dois anos. Eduardo voltou à cidade para rever familiares.
Visitou uma a uma cada família de tios, primos, primos em segundo grau. Estava feliz.
Vinha se despedir ia ser enviado com um contingente para a região amazônica com a finalidade de manutenção de fronteiras. Iriam enfrentar a mata, enfermidades típicas, acampamentos ilegais de garimpo, de madeireiros, e tribos indígenas de raro ou nenhum contato com o restante da população.
Todos ficaram felizes com a felicidade de Eduardo, mas uma ponta de preocupação existia em todos.
Voltou ao seu destino e de lá um mês depois seguiram na missão.
Uma das notícias que a família teve dele foi que o local era tão difícil, tão selvagem que eles tinham que andar amarrados uns aos outros para não se perderem na floresta fechada.
O que houve depois disso? Ninguém sabe.
Receberam um comunicado oficial, condecoração. Eduardo estava morto e seu corpo não fora encontrado.
Realmente, ele se despedira de toda a família antes da partida.
Aos pais a sensação de perda do filho em uma guerra cujos inimigos eles desconheciam a identidade.
Não tiveram um corpo para velar e enterrar, nunca souberam a história real.

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017